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Indígenas defenderam pioneiros adventistas no Peru

Pioneiros que deixaram sua comodidade para cumprirem a missão evangélica no Peru e Bolívia


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Stahl ajuda um indígena na região do rio Uramba. O trabalho incluiu cuidados médicos

Brasília, DF… [ASN] “Uma turba de 500 pessoas atacou os missionários com chicotes, paus, pedras e armas de fogo. Uma pedrada atingiu Stahl na cabeça e produziu uma grave hemorragia”, relata Oscar Plenc, autor do livro Missioneros em Sudamérica, no capítulo oito, ao contar a história do pioneiro adventista Fernando Stahl, que, acompanhado da esposa, Ana, e dos dois filhos, chegou ao Peru em 1909. O propósito de sua ida foi levar saúde, educação e esperança aos indígenas.

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A história prossegue dizendo que “a choça onde se refugiaram estava a ponto de ser incendiada quando os agressores viram uma companhia armada de indígenas, que se aproximava para defender os missionários. A multidão se retirou sem saber que aquela companhia nunca existiu, a não ser pelos anjos protetores de Deus”, narra Plenc. A intolerância religiosa era um obstáculo para o crescimento da obra adventista no Peru.

Primórdios

Fernando (1874-1950), Ana Stahl e os filhos, Frena (15) e Wallace (04), desembarcaram em Mollendo, Peru, conhecido como “o porto mais tempestuoso do mundo”, depois de uma viagem de 20 dias, saindo de Nova York, Estados Unidos. A família foi acompanhada pelo pastor Eduardo W. Thomann, missionário multifacetado que lhes permitiu se comunicarem em espanhol naqueles primeiros dias.

A família viajou de trem, de Molendo a Arequipa, e daí para a cidade de Puno, às margens do Lago Titicaca, conhecido como o lago navegável mais alto do mundo. Os viajantes sentiram, de imediato, os efeitos da altitude. Não obstante, seguiram sua viagem até La Paz, Bolívia, seu primeiro destino missionário.

“Um cavalo e duas mulas foram suficientes para que os Stahl dessem início à viagem por aquela região e o interior do país”, o livro rememora. Sem dúvida, o trabalho dos missionários não foi nada fácil, visto que os indígenas eram dados à bebida e a situação na qual viviam era deplorável. Havia muita pobreza. “Além disso, não faltavam pessoas inescrupulosas e avaras que se aproveitavam dessa condição para maltratá-los e escravizá-los”; brancos, fazendeiros e sacerdotes eram algumas dessas pessoas.

Entre 1910 e 1911, Stahl visitou, a partir da Bolívia, a região de Puno, no Peru. Isso o levou a solicitar à administração adventista permissão para permanecer no distrito de Platería (Peru), e a dar início à missão indígena entre os aimarás. Foi o cacique Manuel Zúñiga Camacho quem promoveu o surgimento da primeira escola adventista indígena. Sua casa serviu de lar para os Stahl “nos primórdios de seu trabalho na obra educacional, sanitária e de evangelização no altiplano peruano”, escreveu Plenc.

Em 1912, foi organizada a primeira igreja adventista, diante de uma “furiosa e sistemática oposição religiosa”. Muitos novos crentes, devido à sua fé, sofreram ameaças, foram espancados e encarcerados. Somente quando a Constituição do Peru favoreceu a tolerância religiosa foi possível notar as melhorias.

A obra educacional adventista entre os indígenas foi fundamental e teve a Bíblia como livro. Uma escola diurna foi aberta para acolher 150 estudantes, vários com mais de 40 anos. Nos sábados, muitas vezes, 800 pessoas se reuniam para aprender com os Stahl.

Outros missionários adventistas que chegaram ao Peru para socorrer a obra dos Stahl foram Bartolomé Rojas e sua esposa Hilalia, vindos da Argentina. São também mencionados C. V. Achenbach e esposa; Juan M. Howell e esposa; Roberto Nelson e esposa.

Em 1918, Fernando, com a saúde debilitada, mudou-se para a cidade de Lima com a família a fim de supervisar as estações missionárias da costa do Peru. Finalmente, em 1919, os Stahl voltaram para sua pátria, Estados Unidos, para um período de descanso.

Nessa data a obra adventista já havia avançado bastante. Havia seis estações missionárias para a população Aimara da Missão do Lago Titicaca (sub-sede da igreja). Mais de 20 escolas, com mais de dois mil alunos em uma ampla zona do altiplano, foram o resultado dos esforços e dedicação missionários. O número de indígenas batizados ultrapassava 1.500 e outros milhares seguiam aprendendo as lições da Bíblia.

Vídeo sobre a história do adventismo no Peru (em espanhol):

https://www.youtube.com/watch?v=WSqIdk95W18

Antecedentes do adventismo

Plenc diz que a obra adventista no Peru teve início no fim do século 19, devido à chegada de colportores e missionários do país vizinho, Chile. Os missionários haviam distribuído literatura adventista e assim ganharam novos conversos. A história também menciona os pioneiros norte-americanos que iniciaram o trabalho de evangelismo ali, como Franklin L. Perry e A. N. Allen. Estes últimos formaram a organização e deram início à Missão Peruana, em 1906.

Também, a União Incaica (hoje dividida em União Peruana do Norte e União Peruana do Sul), sub-sede da Igreja Adventista no país, foi organizada em 1914, cujo território incluía a Bolívia e o Equador.

“A presença de Fernando e Ana Stahl consolidou a obra no que se tornaria a Missão do Lago Titicaca, entre 1909 e 1919. Eles voltariam a ser pioneiros entre 1921 e 1939, desta vez entre os indígenas campas da Amazônia peruana, no Alto Perené, e depois na Missão do Alto Amazonas, com sede em Iquitos”, o livro menciona na página 83.

Biografia

Fernando, órfão de pai e maltratado pelo padrasto, fugiu de casa e foi para Milwaukee, Minnesota. Ali conheceu Ana Cristina Carlson, que imigrou da Suécia aos dezesseis anos, para se radicar nos Estados Unidos e trabalhar em um restaurante da cidade, onde o conheceu. Desde criança, ela sonhava em ser professora e trabalhar pelos indígenas e ajudar os pobres. Os jovens se casaram em 1892, em uma cerimônia civil, e conheceram a Igreja Adventista um ano depois, ao comprarem o livro O Conflito dos Séculos, de Ellen G. White, de um colportor (vendedor de livros cristãos). O missionário convenceu o Stahl a abandonar o fumo. Decorrido um tempo, depois de receberem estudos bíblicos, o casal começou a guardar o sábado.

Eles ingressaram no curso de enfermagem depois que Fernando perdeu o trabalho por guardar o sábado. Enquanto atendiam em uma sala de tratamentos, em Cleveland, Ohio, Deus colocou no coração do Fernando o desejo de ser missionário no exterior. A oportunidade de serem missionários na América do Sul se apresentou em 1909, na Assembleia da Associação Geral (evento mundial dos adventistas). Depois de ouvir o presidente da Igreja na América do Sul, pastor José W. Westphal, eles se ofereceram para trabalhar. Nesse mesmo ano, viajaram de navio até o Peru, sem saber falar o espanhol. [Equipe ASN, Cárolyn Azo]

Confira, na galeria abaixo, algumas imagens do trabalho do pioneiro: