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Aos 100 anos, adventista continua envolvido no trabalho missionário

Apesar da idade, o aposentado Antônio Avelino mantém viva sua fé e a vontade de dar estudos bíblicos


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Batizado há 52 anos na Igreja Adventista, Antônio Avelino continua firma no trabalho missionário (Fotos: Mairon Hothon)

Guarulhos, SP… [ASN] Entre os países com as melhores expectativas de vida, mais uma vez o Japão ganha no ranking com uma média de 83,7 ano. Já os brasileiros vivem em média até os 75 anos de idade, considerada alta em relação à maioria dos países mundiais. Em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, um centenário que acabou de fazer aniversário no dia 1º de julho e esbanja disposição, saúde e muito comprometimento com a vida. O aposentado Antônio Avelino de Campos, que não toma qualquer remédio e usa a bengala apenas para melhor se locomover, conta um pouco da sua história de como continua firme até hoje com trabalhos missionários e no evangelismo pessoal.

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Apesar da idade centenária, o fiel que frequenta a igreja adventista do bairro Ponte Grande tem uma rotina diária de levantar cedo e fazer o que mais gosta e acha necessário para ter esse vitalidade: orar, estudar a Bíblia e a lição da Escola Sabatina. Só após isso, segue para o café da manhã e para sua caminhada diária. Em seus momentos devocionais, ele conta que ora em média por 100 pessoas, entre elas familiares, amigos, vizinhos e todos aqueles a quem ele já deu estudos bíblicos.

Membro da Igreja Adventista desde setembro de 1964, ele dedicou todos esses anos a ensinar sobre o amor de Deus e da esperança revelada nas páginas da Bíblia. Durante sua trajetória religiosa, foi o mentor de pelo menos 35 pessoas que se decidiram pelo batismo como resultado direto de estudos bíblicos.

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Com a esposa, Maria Bertocci, casal fazia do tempo livre uma oportunidade de evangelizar pelos estudos bíblicos e pequenos grupos

Com a sua esposa, Maria Bertocci, de 88 anos, ele aproveitava os momentos livres para chamar os amigos e interessados para sua casa a fim de ensinar a Bíblia. Já Maria ficava responsável por cuidar das crianças, brincar com elas e preparar bolos de chocolate. E esse envolvimento missionário de Campos não veio apenas através do que aprendeu na Bíblia, mas também dos livros da escritora Ellen White, os quais ele usava para servir de referência na hora dos estudos.

Amor por compartilhar

“Meus livros de cabeceira foram o Vida de Jesus, O Grande Conflito e o Caminho a Cristo, obras que eu usei para dar mais embasamento na hora das lições. Aos poucos, eu mesmo, fui fazendo um guia de estudos personalizados e quando vi já tinha um apêndice com 26 temas bíblicos. Normalmente eu passava os versículos bíblicos para cada um ler e depois ia explicando e debatendo passo a passo”, esclarece.

Amante de um dos textos mais conhecidos da Bíblia, João 3:16 (Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna), ao final de cada estudo, Antônio de Campos sempre apelava aos seus estudantes para aceitarem a Jesus por meio do batismo.

“Muitas vezes fui mal compreendido, perdi amigos ou mesmo as pessoas não aceitavam meu apelo, mas o que nunca deixei de ser foi amigo deles. Só quando a gente tem amizade, carinho e respeito pelo outro que conseguimos nos achegar. Eu não desistia da pessoa, continuava orando, convidando para programações especiais e enviando mensagens”, ressalta.

Depois de certo tempo, Campos produziu seu próprio apêndice de estudos da Bíblia

Foram 52 anos fazendo esse mesmo programa todas as semanas, sacrificando, muitas vezes, feriados, finais de semana com a família, tempo para atividades de lazer, um esforço do qual ele não se arrepende. “Eu sou apaixonado pelo Evangelho. Do mesmo jeito que conheci esse amor de Deus e tudo na minha vida tomou um sentido diferente, essa experiência também pode acontecer na vida de outros. O que precisamos é mais de amor uns pelos outros e intenções de levar o Evangelho”, aconselha.

Diferentes gerações

Pintor de retratos, Campos oferecia seus serviços na feira perto da sua casa, no bairro da Ponte Alta, em Guarulhos. Como de costume, sua esposa levava os quadros para expor na feira, até que certo dia um freguês, o adventista Ângelo Duarte, contratou o serviço e combinou a data em que iria buscar o quadro na própria casa do profissional.

“No dia que o Ângelo veio buscar o quadro, eu estava terminando de retocar um quadro do padrinho Cícero e ao ver a cena, ele me disse que aquela figura não era um santo, mas alguém como qualquer outro. Aquilo me deixou incomodado até o dia que eu fui até o padre da Basílica de Aparecida do Norte perguntar, e como ele não soube me responder direito, decidi não mais ser fiel àquela denominação”, relembra.

Após voltar da romaria, ele decidiu não frequentar mais igreja nenhuma e estudar a Bíblia por si só a fim de saber o que de fato era verdade. Durante um ano, ele leu a Bíblia inteira e orou pedindo a Deus para que enviasse alguém para explicar algumas dúvidas e orientá-lo sobre qual igreja deveria congregar.

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O aposentado conta que o segredo para manter sua fé viva é diariamente orar, ler Bíblia e estudar a lição da Escola Sabatina

“Até que no exato dia que completou um ano daquela minha decisão de estudar a Palavra, bateu na minha porta um pastor da Igreja Adventista dizendo que alguém havia indicado a ele que eu precisava de ajuda para entender algumas coisas. Naquele momento eu tive a certeza que era resposta da minha oração”, enfatiza.

Após fazer os estudos bíblicos, Campos, juntamente com sua irmã, foram batizados no templo adventista de Vila Matilde (SP), a única que existia na região leste da cidade. E foi a partir daquele dia que ele começou a compartilhar o conhecimento que havia obtido. “A alegria foi tanta que no dia do meu batismo eu dei de oferta 500 cruzeiros como agradecimento a Deus por ter me encontrado. Queria gritar pra todo mundo que havia escolhido seguir Jesus”, lembra.

Cumprindo a missão

Durante esses 52 anos, Antônio ajudou a construir as igrejas nos bairros paulista da Penha, Vila Alpina, Vila Cipa e em Guarulhos, no bairro da Ponte Alta. Durante esse tempo, ele também ressalta que para cada época, uma dificuldade surgia, mas não perdia o foco.

“É engraçado perceber, hoje, como o crescimento da Igreja fluiu de acordo com cada época. Durante a Ditadura foi o período que eu mais tive dificuldade de evangelizar porque tudo poderia ser sinônimo de revolta contra o governo. As pessoas tinham medo de se reunir em casa para estudar. Depois, na época das Diretas Já, as pessoas se interessavam mais pelas lições que falavam de liberdade, do Céu. Com a chegada da tecnologia, comecei a usar projetor de vídeo na sala, colocar músicas de CD”, recorda.

Hoje, Antônio não consegue mais reunir um grupo em sua casa para estudar a Bíblia, mas aproveita cada oportunidade para falar um verso bíblico, dar de presente alguma literatura ou mesmo contar histórias bíblicas para suas netas. Contudo, constata que apesar da facilidade e do acesso que todos tem hoje de falar de Jesus, menos interesse há.

“Eu fico maravilhado como a Novo Tempo alcança as pessoas, como o celular é funcional, como tem tantos programas na Igreja, mas infelizmente parece que nossos irmãos só estão preocupados com os sonhos e problemas pessoais e nem lembram da missão bíblica. Eu já vivi 100 anos nesta terra e não quero passar mais anos por aqui, quero ver Jesus voltar. Enquanto eu tiver força, quero falar do amor de Jesus”, finaliza. [Equipe ASN, Mairon Hothon]