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Entrevista - Sou um Milagre

Professor Mário Ritter conta a sua luta diária contra o câncer


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Professor Mário Ritter e esposa Sueli no dia da entrevista.

Professor Mário Ritter e esposa Sueli no dia da entrevista.

Artur Nogueira, ASN... O professor e pastor Orlando Mario Ritter, 57 anos, é casado há 33 com Sueli Ritter, que foi enfermeira por 25 anos. Ele é pai de Orlando Ritter Neto e Rafaela Ritter Rizziolli e avô de um casal. Formado em Química, Pedagogia e Estudos em Teologia, trabalha na Educação Adventista há mais de 35 anos.

Descobriu em julho de 2013 um adenocarcinoma no cólon, um tipo de câncer no intestino. Depois de passar por quatro grandes cirurgias, outras quatro de pequeno porte e ficar internado por 73 dias no Hospital Adventista de São Paulo (HASP), sendo 55 consecutivos, ele conta como tem sido a recuperação, considerada um milagre de Deus.

Sentada ao lado do Belo, maneira carinhosa que o Prof. Mário é chamado desde pequeno pela família, Sueli relata os primeiros 40 dias de internação, momento em que o Professor estava em coma induzido. De forma tranquila, feliz e com sentimento de gratidão em todo o relato, eles falam um pouco dessa história que é um testemunho de fé, oração e amor.

Agência Sul-americana de Notícias: Quais foram os primeiros sintomas que o senhor teve em relação à doença?

Mario Ritter: Eu não sentia nenhum mal estar ou dores, somente um desconforto abdominal por gases. Fui ao médico e fizemos alguns exames e uma semana depois já tivemos o diagnóstico do câncer. E já foi marcada a cirurgia, se tudo desse certo, em cinco eu já teria alta. Mas infelizmente não foi o que aconteceu.

Depois da cirurgia, o Professor Mário só acordou efetivamente depois de 40 dias devido uma complicação no procedimento cirúrgico. Quem fala sobre os momentos mais intensos e difíceis é Sueli, sua esposa.

Sueli Ritter: Ele voltou da cirurgia da retirada do tumor relativamente bem, saiu do leito para um rápido banho, mas sempre com muita dor. A noite ele estava muito mal e foi realizada uma tomografia com resultado de líquido no pulmão e abdômen. Ninguém sabia que líquido era nem de onde estava vindo. Quem operou foram dois médicos que realizam apenas cirurgias para o HASP, cirurgiões escolhidos pelo grupo de médicos que estava acompanhando o caso do Belo.

ASN: Sueli, neste momento quais foram suas impressões e reações?

S.R.: Eu decidi fazer um diário, porque vi que talvez seria útil neste processo de recuperação e já liguei para algumas pessoas e também comecei, nas redes sociais, a explicar o que eu tinha de informação e a pedir oração por ele. Não sabíamos o que estava acontecendo, se o câncer era mais agressivo do que imaginávamos ou quais complicações ocorreram.

A segunda cirurgia.

S.R.: Por toda situação, ele estava na UTI sedado e foi decidido fazer uma segunda cirurgia, ou seja, revisão cirúrgica. Tiraram cinco litros de líquido, voltou com colostomia, peritonite, entre tantas outras intercorrências. Mas no dia seguinte a dificuldade era a insuficiência respiratória com derrame pleural e a insuficiência renal. Ele foi entubado e não teve melhora nenhuma no quadro.

A terceira cirurgia, momento decisivo.

S.R.: Eu ficava ao lado dele o tempo todo, observando, orando, anotando tudo. Foram dias difíceis, dormia numa cadeira, era muito barulho na UTI. Quando você trabalha na área é diferente, você tem o sentimento de dor pelo próximo, mas nada parecido com a sensação de ver alguém que você ama deitado ali impotente. Eu vi o Belo só piorando, não tinha melhora e também não descobríamos o que estava de errado com ele. O líquido que se acumulava no abdômen agora começou a “migrar” para os pulmões, causando uma respiração extremamente difícil e ofegante. Na noite anterior da terceira cirurgia, para retirada de líquido, ao ver mais uma vez o que aconteceu, foi o pior momento. Ele levou três eletrochoques, ele já estava muito magro. Eu sentia a mão de Deus mas meu corpo já não aguentava tanta dor.

Sabia que muita gente estava orando, meu sogro o Prof. Orlando realmente orava sem cessar. Neste período estávamos no livro de Jó da Bíblia, do programa Reavivados por Sua Palavra e lendo outros conteúdos juntos vi que temos que orar por pedidos específicos e foi isso que fiz. Pedi a unção, e orei a Deus, “Senhor quero muito que meu marido seja curado, mas eu entrego em Tuas mãos.” Foi o único momento que eu senti que perderia o Belo.

Por ter pedido a unção demorou um pouco para ele descer para o centro cirúrgico, até os médicos, que não entendiam muito o que é uma unção ficaram um pouco incomodados com a demora.

A cirurgia começou e o médico abriu o abdômen e tirou mais 10 litros de líquido, examinou e não viu nada de errado. Já ia fechar mas, ai entra o milagre de Deus, o Espírito Santo tocou nele e resolveu revisar tudo pela segunda vez. O médico olhou para a equipe e falou, “valeu ter esperado a unção, descobri o que aconteceu, o líquido no abdômen e pulmões é urina proveniente do ureter perfurado”.

Erro médico, perdão instantâneo.

S.R.: Na primeira cirurgia tinham perfurado o ureter. Ou seja, até neste momento, doze dias depois, tudo que o Belo passou, as três outras cirurgias foram por causa do erro da primeira cirurgia. Não por causa do câncer.
M.R.: Não tinha o que ser perdoado, assim como muitos erram, eles erraram. Isso tudo só comprovou que Deus estava à frente, Ele me salvou de muitos momentos difíceis e impossíveis de restauração.
S.R.: Esse era o momento de ficarmos calmos, lógico que você fica muito triste e chateada, mas eu precisava que ele passasse ainda pela a cirurgia de restauração do ureter, então tinha que passar tranquilidade para os médicos.
Porém quatro doutores foram primordiais e fantásticos neste processo todo, nenhum operou o Belo, mas acompanharam o caso dele e ajudaram incansavelmente. O Dr. Dorival Duarte, Dr. Everson Gomes, Dr. Cesar Sarmiento e o Dr. Fabiano Luz. Eles foram anjos nas mãos de Deus, não descolaram do lado do Belo, o tempo todo estavam presentes tanto na UTI como em muitos outros procedimentos.

Quarta cirurgia

S.R.: Ele só estava se alimentando por soro, estava muito fraco, tinha perdido muita massa muscular, não sei como aguentaria uma quarta cirurgia. Neste momento eu orei e o meu conforto foi: tem tanta gente orando, que vai dar certo. Eu não sabia o que ia acontecer, mas sabia que iria dar certo.

O médico desceu falou que a previsão dessa cirurgia seria de 5 a 6 horas. Eu questionei, porque ele não aguentaria ficar aberto tanto tempo, meu medo de infecção era grande. Mas de novo pela Graça de Deus, a cirurgia durou somente 2h30.

Entrevista-sou-um-milagre

Raio X de um dia pro outro. No primeiro, o órgão estava infeccionado. No exame do dia seguinte, o pulmão do pastor Mário estava saudável

ASN: Acabou?

M.R.: Eu lembrava de muita coisa, mas tudo de maneira confusa. Tive muitas alucinações quando foram deixando de me dar sedativos que me induziam ao coma. Foi retirado o tubo, comecei com a fisioterapia, não aguentava ficar em pé. Comecei a saber das cirurgias e me lembrar do que aconteceu, pois eu ouvia tudo que era dito só não estava de olhos abertos, foi difícil. Ficamos mais alguns dias no hospital, mas presenciamos mais um milagre. Quando foi retirado o tubo, o medo era de estar infeccionado o pulmão, tiramos um raio-X do pulmão a noite e no dia seguinte teríamos que entubar mais uma vez e começar um processo doloroso, pois estava infeccionado. Oramos muito e no dia seguinte, meu pulmão estava limpo. E aí, começamos a conversar sobre a quimioterapia.

Primeira quimioterapia, um “esquecimento” por providência Divina.

M.R.: Nem vou ficar aqui falando tudo que aconteceu, mas só para você ter uma ideia, não aguentava dar 10 passos com andador, não tomava banho sem ser sentado, minha cabeça ficou pesada demais, desenvolvi uma hérnia de parede na colostomia. Além disso, o cateter que foi colocado para a aplicação da quimioterapia estava doendo demais, depois foi descoberto que estava mal colocado. Depois de 55 dias no Hospital voltamos para Artur Nogueira [cidade onde moram] depois de algumas semanas voltamos a São Paulo para a primeira quimioterapia. Quando chegamos na clínica, o médico tinha se esquecido de marcar a quimioterapia e preparar os medicamentos. Eu teria que tomar a mais forte, porém só dava tempo de fazer a mais fraca. Fiquei um pouco desapontado, mas foi decidido que faríamos a mais fraca, neste “esquecimento” vimos mais uma vez a proteção de Deus. Eu estava com uma bactéria hospitalar que despertou com a quimioterapia mais fraca, se fosse a mais forte provavelmente eu não teria resistido, porém por causa desta infecção tive que voltar para o hospital e ficar mais 18 dias internado.

Recuperação e hora da virada

M.R.: Saí do hospital e foi descartado por um tempo a quimioterapia, para que eu me recuperasse e tivesse um pouco de descanso. Dia 15 de dezembro decidimos ir para a praia, em Peruíbe e passar o natal em família. Também decidimos que iríamos mudar mais ainda a alimentação, que já era vegetariana. Começamos uma alimentação antineoplásica, ou seja anticâncer, tiramos totalmente o açúcar, acrescentamos muitos sucos de folhas, vegetais e frutas entre outras mudanças significativas. Foi maravilhoso respirar outros ares, ficar com a família.

S.R.: Foi o melhor natal que já tivemos, agradecemos muito a Deus por tantas bênçãos, pelo Belo ser um milagre. Depois no dia 13 de janeiro foi a hora da virada, decidimos ficar mais próximo de casa, então estamos realizando as quimioterapias e as consultas com um médico em Campinas. Terminamos a 4a sessão, faltam mais 4 sessões de quimioterapia.

Na quimioterapia é o momento de testemunhar

M.R.: Estou muito bem, não passo mal ou fico debilitado como outros pacientes que ficam por causa da quimioterapia. Tenho comido bem, dormido bem, chego lá para receber a quimioterapia e os pacientes me perguntam o que eu tenho feito. Aí é a hora de testemunhar. Falo da alimentação saudável, sobre a fé, a oração, sobre o “Cevisa” [Centro de Vida Saudável da Igreja], vou começar a entregar livros agora. Teve até uma senhora que falou sobre um canal de TV que falava sobre fé e Deus, a Novo Tempo. Ai eu respondi: “essa é a minha TV”.

Gratidão

M.R.: Só temos a agradecer, pois vimos que a Igreja é uma família mesmo. Pessoas que estavam em outros países mandaram mensagens dizendo que estavam em oração por nós. Havia revezamento de oração para que nenhum momento ficasse sem alguém intercedendo por nós. Até brinquei com minha esposa: o céu está congestionado de tanto que os anjos sobem e descem por causa das preces.
Quero agradecer a você que está lendo essa entrevista e que orou por mim. Sei que a educação, ou seja, os professores, os diretores, os funcionários de diversos setores e até mesmo os alunos oraram por nós. Os escritórios da União Central Brasileira, das Associações, outras Uniões e Associações por este Brasil afora, a Divisão Sul Americana, enfim, a todos vocês meu muito obrigado.
Também quero agradecer aos pastores e amigos que foram ao meu leito e oraram com a Sueli enquanto eu estava em coma, eu tenho certeza que isso deu forças para que ela pudesse continuar ao meu lado. Agradeço à minha família, filhos, genro e nora, meus pais, cunhados e cunhadas, irmãos, enfim a todos que se empenharam e fizeram e ainda estão realizando a diferença em minha vida.
Agradeço à Sueli. Essa mulher foi de ferro, ela esteve ao meu lado em todos os momentos. Agradeço aos médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, serviço de capelania com visitas diárias ou seja, ao Hospital Adventista de São Paulo que me ajudaram e ainda estão para que eu me recupere totalmente.

ASN: Qual é o resultado de tudo isso?

M.R.: Você até se pergunta: nossa por que Deus permitiu que tudo isso acontecesse? Eu já tenho algumas respostas, outras só terei no céu. Mas alguns parentes próximos já se decidiram pelo batismo, só estão esperando que eu aguente batiza-los. Outros só de ouvirem minha história, como o pai da instrumentadora do Hospital, que acompanhou todas as cirurgias, decidiu estudar a bíblia. Médicos não cristãos que puderam ver a mão de Deus no meu caso, reconheceram “algo de mágico” na minha não morte, entre tantos outros. Por causas das orações eu fui beneficiado pelo milagre da vida, mas a Igreja, as pessoas que oraram, elas foram abençoadas.

Mário na máquina pneumática, após a 4 cirurgia, quando ele começou a se recuperar

Mário na máquina pneumática, após a 4 cirurgia, quando ele começou a se recuperar

ASN: E agora?

M.R.: Estou melhor, porém em recuperação. Estou caminhando bem, mas ainda é difícil. Tenho me alimentado bem e a cada dia estou voltando às atividades normais. Fiz uma tomografia e estou com uma mancha no fígado. Foi comprovado que é metástase, então os próximos passos daqui para frente são: em abril, fazer uma cirurgia para tirar um pedaço do fígado e, em junho, mais uma cirurgia para reverter a colostomia. Depois, em agosto e setembro, mais quatro sessões de quimioterapia. Ainda existe um bom percurso a trilhar, mas estamos confiantes em Deus e confiantes de que podemos contar com as orações dessa família cristã.

ASN: O que a doença ensinou?

M.R.: Eu sou um milagre. O que eu contei é um pedacinho de tudo que passamos, mas se for ver cada detalhe você percebe que Deus abençoou em todas as situações. O amanhã não me preocupa mais, porque o hoje já é um milagre. Não penso mais no futuro como antes, pois eu tenho vivido e me preparado para a volta de Jesus hoje.

S.R.: Eu percebi que para Deus não tem tamanho da doença. Se você pede um milagre, não importa se é um câncer ou algo mais simples. Ele irá conceder, mas sempre, sempre colocando nas mãos de Deus. A vida é um dom mesmo, é um presente porque agora estou bem, mas daqui a 5 minutos você não sabe. Isso parece tão simples e teórico, mas quem passa por algo tão profundo como passamos vê mais do que nunca que a volta de Jesus é hoje, é agora!

[Equipe ASN, Gislaine Westphal]