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Especialistas avaliam causas da violência sexual

Profissionais analisam dados de recente pesquisa sobre violência sexual no Brasil


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Para 97% das pessoas ouvidas na pesquisa, nenhuma mulher merece ser estuprada, independente se “sóbria, chapada, vestida ou pelada”. Foto: Shutterstock

Para 97% das pessoas ouvidas na pesquisa, nenhuma mulher merece ser estuprada, independente se “sóbria, chapada, vestida ou pelada”. Foto: Shutterstock

Brasília, DF ... [ASN] A violência sexual, especialmente praticada contra mulheres, é um assunto que preocupa em todo o planeta, especialmente no Brasil. Resultados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão foram divulgados nessa semana e tentam identificar razões e a avaliação dos brasileiros sobre o tema. A pesquisa ouviu mil pessoas em julho desse ano. Constatou, por exemplo, que 67% das pessoas ouvidas acredita que a violência sexual ocorre porque os homens não conseguem controlar seus impulsos. Outros 58% culpam o uso de álcool e drogas e 32% atribuíram a violência sexual a problemas mentais.

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A psicóloga Simone Bohry, mestre em Psicologia Clínica e Cultura, explica que realmente existem patologias, a exemplo dos quadros psicóticos, em que há a falta de controle de impulsos, mas não apenas em relação à questão sexual. “Porém, estes casos são minoria e o tratamento adequado, com medicação e psicoterapia, permite com que os impulsos sejam controlados”, pondera. A profissional avalia, no entanto, que um fator muito importante é o fato de se viver uma era em que a liberdade sexual é valorizada. “É comum ouvirmos educadores sexuais estimularem o uso de preservativos para conter doenças e gravidez não planejada, justamente porque é impossível controlar os impulsos sexuais. Crianças e adolescentes são inseridos em um contexto no qual falácias levam ao uso de frases deturpadas como “falta de controle de impulsos masculinos”, neste caso, inclusive para o estupro, e a mulher, de vítima, passa a ser a responsável. Importante refletir um pouco mais sobre a "educação sexual"  atual e as variáveis e consequências envolvidas”, ressalta.

Desrespeito à mulher

A pesquisa mostrou que 69% das mulheres atribuem a violência sexual ao machismo. Por outro lado, 42% dos homens acreditam que o crime ocorre porque as mulheres provocam. Para a psicóloga Simone Bohry, “ainda reina uma cultura machista, na qual os homens permanecem impunes de seus atos impulsivos, o que faz com que mantenham esse tipo de comportamento e, também, por sentirem mais fortes, como consequência superiores, percebem a mulher apenas como um corpo feminino”.

Na avaliação da jornalista Betina Pinto, professora do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), mestre em Comunicação e autora de uma dissertação sobre violência contra a mulher, “paira no ar a compreensão de que, ao homem, tudo é permitido inclusive usar a mulher como ele bem entender. É como se ao homem fosse concedido o direito de violar as mulheres no momento e da forma que ele quiser. A mulher não é vista como um ser humano que possui direitos e deveres, exatamente como o homem. Exemplos desse contexto podem ser observados desde a mais simples propaganda de televisão até as desigualdades salariais entre homens e mulheres que ocupam a mesma função. Essas distinções sociais entre os sexos são ensinadas já na infância e passam de geração pra geração”.

Outras implicações

Quando se fala sobre causas, o uso de drogas é outra preocupação. Conforme Simone Bohry, “as substâncias químicas alteram o senso crítico no cérebro, liberam impulsos que, em sã consciência, não seriam aceitos e levam profundo sofrimento aos que convivem diretamente com o usuário. Porém, o uso das drogas traz um prejuízo global no senso de percepção da pessoa, o que leva a outros tipos de violência, também, e não apenas a sexual. Nos casos específicos de estupro, os agressores, em geral, são pessoas próximas, porém, na maioria das vezes, estão conscientes de seus atos”, pontua.

Um outro aspecto a ser visto é o comunicacional. A proliferação de opiniões nas redes sociais pode ser aliada ou não de um trabalho de conscientização. A jornalista Betina Pinto analisa que “as mídias sociais têm exercido um papel duplo quando o assunto é violência contra a mulher. O primeiro deles é quando denunciam os casos de machismo e violência. E o segundo é quando lançam dúvidas sobre o comportamento de uma vítima de estupro, por exemplo, numa clara tentativa de atribuir culpa e ela pela violência sofrida, por meio de um discurso essencialmente machista”. Betina chama a atenção para a necessidade de se discutir mais o uso que as pessoas fazem as redes sociais. “Você pode eleger as mídias sociais para disseminar um discurso de respeito, de harmonia, de valorização do outro. E isso fica muito explícito em todas as suas movimentações na rede. Desde a frase que você posta, até a fotografia ou o comentário que você faz. Você pode proliferar um discurso de ódio, ou decidir usar essa ferramenta para o bem. Você pode escolher ser um agente que promove a valorização da mulher, sem investir na depredação da imagem masculina”, comenta.

Bíblia, instrumento educacional

Simone Bohry acrescenta que a Bíblia é um excelente meio de educação nesse assunto de violência doméstica e sexual. “Por exemplo, o nosso corpo é templo do Espírito Santo segundo a Bíblia. Se, desde pequena, a criança é ensinada dentro desse simples, mas profundo princípio, o conceito já é suficiente para que ela respeite o seu próprio corpo e o corpo do seu próximo. Outro princípio é: amarás o teu próximo como a ti mesmo, e tantos outros encontrados nos 66 livros. A educação religiosa prática leva ao respeito, ao cuidado, a comportamentos adequados e livres de violência. Seja ela qual for”, acrescenta.

No próximo ano, o projeto Quebrando o Silêncio vai tratar dessa temática, tanto na revista produzida quanto nas ações de prevenção e orientação à sociedade. [Equipe ASN, Felipe Lemos]