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Editor analisa como pastores adventistas podem ser relevantes às novas gerações

O desafio de se engajar os representantes das novas gerações foi tema principal da primeira edição de 2016 da Revista Ministério.


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Barbosa acredita que um dos pontos principais para alcançar as novas gerações é compreender a forma como pensam e explorar os recursos tecnológicos utilizados por eles

Brasília, DF... [ASN] A primeira edição da Revista Ministério de 2016, publicação adventista voltada, sobretudo, aos pastores, traz na capa um tema que inquieta os ministros: o desafio de tornar a pregação relevante às novas gerações. Aliás, o tema preocupa a Igreja Adventista de modo geral na América do Sul. Tanto é que foi adotada como uma das ênfases a ser estudada e trabalhada de maneira prática junto às congregações nos próximos cinco anos.

Por isso, a Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN) conversou com o teólogo e administrador Wellington Barbosa, atual editor da Revista Ministério, produzida pela Casa Publicadora Brasileira. Barbosa, que é pós-graduado em Aconselhamento Familiar e mestre em Teologia, substituiu o pastor Zinaldo Santos, que permaneceu à frente da publicação por 23 anos.

ASN - A nova edição da Revista Ministério aborda os desafios de pastorear as novas gerações. Na sua avaliação, quais são os principais desafios para os pastores adventistas?

Wellington Barbosa - Creio que nosso principal desafio é entender o contexto de mundo em que vivemos, a fim de pastorearmos de modo eficaz. A pós-modernidade tem implicações profundas sobre a vida de todos, e precisamos compreender de que maneira nossos jovens estão sendo afetados por isso. Embora a maioria de nosso grupo ministerial ativo na América do Sul tenha nascido naquela que é chamada primeira fase do mundo pós-moderno (1950-1990), isso não significa necessariamente que ele entenda o que se passa com aqueles que nasceram na segunda fase (1990-   ), marcada fortemente pela influência dos dispositivos eletrônicos e da internet.

O espírito relativista, questionador, subjetivo, experimental e aberto da juventude, potencializado pelos recursos tecnológicos, é desafiador, pois contrasta com a objetividade e consistência do evangelho. Conscientes da lógica do pensamento dos jovens, poderemos saber como alcançar sua mente e seu coração para promover compromisso e engajamento com Cristo e a missão da Igreja.

ASN - Um dos grandes dilemas, nesse assunto, parece ser o de conciliar uma mensagem bíblica consistente com uma forma mais inovadora e criativa de fazê-la chegar até mentes inquietas que estão acostumadas com a rotina dos vídeos virais, games, redes sociais, etc. Você concorda com isso? O que sugere que seja feito para se chegar a uma harmonia?

Wellington Barbosa - Ao longo da história, a disseminação do evangelho sempre esteve ligada às inovações tecnológicas; portanto, não podemos ignorar a necessidade de andar em sintonia com os mais modernos recursos de comunicação. Acredito que devemos estar atentos a isso, ativos em adaptar a mensagem bíblica para cada um deles, mas cuidadosos para não assimilar conceitos ou práticas midiáticas questionáveis no contexto cristão.

Há poucos dias foi divulgado o resultado de uma pesquisa sobre as 20 personalidades mais influentes entre os jovens no Brasil. Metade delas são youtubers, as demais, artistas de TV. Os entrevistados disseram o que mais chamava atenção nessas pessoas: autenticidade, originalidade, senso de humor e inteligência. Isso me fez refletir em algumas questões: qual é o significado dessas características para o público jovem? Como pastores, podemos assimilar essas características do modo como os jovens as apreciam, a fim de alcançá-los? Não tenho dúvida de que a Bíblia deve ser o elemento balizador nesse processo de contextualização da mensagem.

ASN - A mentalidade das novas gerações não tem a ver apenas com novas tecnologias, mas com uma percepção mais crítica da própria religião que professam. O que você sugere que um pastor local ou mesmo um outro líder faça para engajar mais seus membros desse grupo e fazer com que saiam da crítica ou de algum ceticismo e apreciem a religião?

Wellington Barbosa - Uma das características da pós-modernidade é a valorização da experiência espiritual individual, ao mesmo tempo em que se desconfia de instituições religiosas. Isso justifica, por exemplo, o aumento no número de pessoas que professam o cristianismo, mas escolheram viver sua fé fora da igreja institucional.

No Brasil, estima-se que quatro milhões de evangélicos estão nessa condição, e a tendência é que esse número aumente progressivamente. Escândalos de ordem moral e financeira, hipocrisia e espírito crítico no contexto religioso são alguns fatores que favorecem esse aumento. O fato de a Igreja Adventista ser uma instituição sólida e confiável não a torna imune ao espírito de desconfiança da juventude.

Para superar isso, entendo que nós, pastores, devemos ser coerentes em nosso discurso cristão, transparentes em nossos procedimentos e próximos de nossos jovens. Essas atitudes geram a confiança necessária para conquistá-los e conduzi-los em um processo de crescimento espiritual.

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Primeira edição do ano debate a necessidade e os caminhos para dialogar com um público diferenciado (Foto: Divulgação/CPB)

ASN - Uma das reportagens dessa edição fala da importância de envolver as novas gerações em mais processos e menos eventos. O que isso quer dizer, exatamente?

Wellington Barbosa - A palavra que resume esse conceito é discipulado. Os eventos têm seu lugar, mas não se pode limitar o envolvimento dos jovens com a igreja apenas a ocasiões pontuais. Eles precisam experimentar a vida cristã no dia a dia. Devem entender o que é ser sal e luz em seu contexto cotidiano, seja na família, na escola, no lazer ou nas redes sociais.

Com a nossa ajuda, necessitam vivenciar o discipulado, assim como os primeiros seguidores de Cristo experimentaram. Isso demanda de nós intencionalidade, dedicação, tempo, paciência e muito amor. Não acho que a juventude seja inerentemente apática em relação à missão da Igreja e às necessidades do mundo, mas entendo que ela precisa ser tocada em sua mente e em seu coração para sair da inércia e fazer a diferença, onde quer que esteja. Se conseguirmos, de modo processual, cultivar no coração deles a paixão por Cristo e pela missão, teremos alcançado um grande objetivo em nosso ministério. [Equipe ASN, Felipe Lemos]