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Coluna | Wilson Borba

“E o Verbo se fez carne”

Jesus fez morada entre os homens para apresentar-lhes o caráter do Pai


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Como humano, o rei do universo nasceu em berço humilde, improvisado (Foto: Shutterstock)

Mais um Natal se aproxima. As reuniões em família, as ceias deliciosas e os abraços amigos, além de bem-vindos, são inesquecíveis. No entanto, como afirma Altares, “desde o império Romano, o Natal tem sido uma luta entre elementos religiosos e pagãos, entre a festa e a liturgia, que se prolonga até nossos shopping centers”.[1] Considerando que o dia 25 de dezembro é observado em comemoração ao nascimento de Jesus Cristo, os adventistas do sétimo dia buscam glorificar a Deus (1 Coríntios 10:31), evitando sabiamente certos elementos incorporados à festividade e utilizando a ocasião “para um bom propósito”[2], como, por exemplo, meditar na missão do Filho de Deus; apresentar a Deus ofertas de gratidão[3] e ajudar os necessitados.[4] Este artigo, focado na encarnação de Cristo, apresenta a grandeza da natividade, a fim de promover séria reflexão, que resulte em adequada resposta ao seu amor. O que é a encarnação?

  1. A encarnação é um mistério profundo e multifacetado. Como afirmou Geisler: “O cristianismo é singular entre as religiões mundiais; e a singularidade verdadeira de Cristo é o centro do cristianismo”.[5] A encarnação de Jesus Cristo desafia a ciência e a compreensão humana, pois “a história de Belém é inexaurível. Nela se acham ocultas “as profundidades das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus" (Romanos 11:33)”.[6] Como Deus tornou-se carne por um nascimento virginal sem intercurso sexual, e ainda manteve sua divindade plena? (Mateus 1:18, 23). Como pode alguém ser totalmente Deus e totalmente homem? Como aconteceu a união da natureza divina do Filho de Deus com sua perfeita natureza humana? A encarnação é realmente um santo, elevado, e profundo mistério!
  2. O mistério da encarnação exige uma atitude adequada de nossa parte. Alguns preferem combater o que não entendem, pois se sentem humilhados diante do incompreensível. Entretanto, a encarnação é mais uma evidência de que Deus é infinitamente sábio, onipotente, e pode realizar coisas muito acima da nossa compreensão. Portanto, é necessário humildade e reverência diante do Todo-Poderoso. “Devemos aproximar-nos deste estudo com a humildade de um discípulo, de coração contrito. E o estudo da encarnação de Cristo é campo frutífero, que recompensará o pesquisador que cave fundo em busca de verdades ocultas”.[7] É preciso também fé, o que não significa um salto no escuro, mas confiança em Deus baseada nas múltiplas evidências do seu poder e amor amplamente disponíveis na Natureza criada e, de modo especial, em sua Revelação escrita (2 Timóteo 3:15; 2 Pedro 1:19-21). “Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas” (Lucas 1:37).
  3. Deus revelou na Bíblia a encarnação de Jesus Cristo. É fundamental buscar compreensão sobre a encarnação de Cristo e outros assuntos na Palavra de Deus, pois: “As Escrituras Sagradas são a revelação infalível, suprema e repleta de autoridade de sua vontade. Constituem o padrão de caráter, a prova da experiência, o revelador definitivo de doutrinas e o registro fidedigno dos atos de Deus na história (Salmos 119:105; Provérbios 30:5, 6; Isaías 8:20; João 17:17; 1 Tessalonicenses 2:13; 2 Timóteo 3:16, 17; Hebreus 4:12; 2 Pedro 1:20, 21)”.[8] As declarações da Bíblia inteira nos ajudam a entender não apenas a criação (Hebreus 11:3), a queda, mas também a receber melhor compreensão sobre o plano da redenção e a necessidade da encarnação do Filho de Deus. Neste ponto cabe uma séria advertência. Não devemos buscar conhecimento, e nem depositar fé em fontes não autorizadas por Deus.[9] O apóstolo Paulo advertiu: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (Gálatas 1:8). O apóstolo João também foi incisivo ao declarar: “Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo a respeito do qual tendes ouvido que vem, e presentemente, já está no mundo” (1 João 4:2, 3).
  4. A encarnação envolveu infinita humilhação do Filho de Deus. A encarnação faz parte do mistério eterno mais amplo do plano da redenção (Romanos 16:25), que envolveu abismal e necessária humilhação do Filho de Deus. Conforme profecias (Mateus 16:21; Lucas 24:44-47), Cristo se autolimitou, deixando sua elevada posição no trono do Universo, e como servo desceu em uma “cascata” de rebaixamento até a morte expiatória na cruz (Filipenses 2:5-9). Como substituto, morreu por nossos pecados (1 Coríntios 15:3, 4; 2 Coríntios 5:21) para ser nosso legítimo intercessor junto ao Pai (Hebreus 5:1-5, 7-10). Sua missão incluía revelar aos homens e ao Universo o caráter de Deus em meio a sofrimentos (Isaías 52:13-53:12), e reivindicar a Lei divina, pois no centro do grande conflito entre o bem e o mal está o caráter de Deus e a perpetuidade da sua Lei dos Dez Mandamentos (Apocalipse 11:19; 12:17; 14;12).
  5. Na encarnação, Cristo não perdeu sua divindade, e na ressurreição não perdeu sua humanidade. Jesus Cristo é o divino e eterno Verbo Criador que se fez carne e habitou entre nós (João 1:1-3, 14), “totalmente divino e totalmente humano. Deus e homem ao mesmo tempo”.[10] Ele “não era duas pessoas, mas tinha duas naturezas dentro de uma pessoa.”[11] O apóstolo Paulo apresenta o Cristo encarnado como segundo Adão e o legítimo representante da raça humana (1 Coríntios 15:45, 47). Conforme Romanos 5:14, “em seu papel como cabeça federal, Adão era um tipo (símbolo) daquele que devia vir - isto é, o Senhor Jesus Cristo”.[12] Assim como aconteceu primeiramente em relação a Adão, o segundo Adão também não poderia vir com propensão para o pecado. Jesus Cristo não foi corrompido pelo pecado à semelhança de Adão e cada ser humano, caso contrário, também precisaria oferecer sacrifício por seus próprios pecados (Hebreus 7:27) e não poderia ser nosso perfeito Salvador (Levítico 1:3, 10; Hebreus 7:16; 1Pedro 1:18, 19). “Sua natureza espiritual estava isenta de qualquer nódoa de pecado.”[13]Entretanto, limitações evidentes e inocentes demonstram que, embora a natureza humana de Jesus não tenha sido infectada, ela foi afetada pelo pecado.[14] Cristo encobriu sua divindade com uma natureza humana sem pecado, mas mais fraca daquela com que Adão fora dotado.  Jesus sentia fome (Mateus 4:2), cansaço e sede (João 4:6, 7); chorava (11:35), ficava perturbado (12:27; 13:21) e morreu (João 19:30). Neste aspecto, “a natureza humana de Cristo era semelhante à nossa”.[15] Contudo, após sua morte, Ele ressuscitou como vencedor e levou consigo para sempre a natureza humana glorificada (João 20:27-29; 1 Coríntios 15:21-23). “Agora, por Sua divindade, firma-Se ao trono do Céu, ao passo que, pela Sua humanidade, Se liga a nós”.[16]
  6. A encarnação nos convida a aceitar Jesus Cristo como Senhor e Salvador, compartilhar seu amor e as boas novas da salvação. O escritor de Hebreus convidou seus leitores a considerar a Jesus (Hebreus 12:3). A palavra grega é ἀναλογίζομαι (analogizomaia), e significa analisar detalhadamente. Para Kistemaker e Hendriksen, “Ele literalmente lhes diz para comparar suas vidas com a de Jesus e tomar nota de tudo o que Jesus teve que suportar”.[17]

    Que neste Natal tomemos a Bíblia, e de coração aberto analisemos detidamente o infinito sacrifício do Filho de Deus para nos salvar. A encarnação nos convida a aceitar o sacrifício substitutivo de Cristo por nós na cruz, e recebê-lo como nosso único Senhor e Salvador. O convite é extensivo a compartilhar seu amor e esta tão grande salvação. Que resposta você lhe dará? Feliz Natal!


    Referências:

    [1]Guillermo Altares, “A origem do Natal: uma luta entre elementos religiosos e pagãos”, El País, https:// brasil. elpais.com/brasil/2017/12/08/cultura /1512736033 _713696 .html (Consultado em 10 de dezembro de 2017, às 21:31h).

    [2]Ellen G. White, O lar adventista, 14ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), 478.

    [3]Ibíd., 482.

    [4]Ellen G. White, Manuscrito 13, 1896.

    [5]Norman Geisler, Enciclopédia de apologética (São Paulo: Editora Vida, 2001), 219, 220.

    [6]Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, 22ª ed. (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2013), 49. A seguir: White, O Desejado de todas as nações.

    [7]Ellen G. White, Mensagens escolhidas, 2ª ed. (Santo André, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1985), 1: 244.

    [8]Manual da Igreja 2015, 22ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), 167.

    [9]Através de outro evangelho o espiritismo pretende ser um canal de luz para a humanidade, mas frontalmente nega verdades das Escrituras como a encarnação do Filho de Deus.

    [10]L. Palau, Comentario bı́blico del continente nuevo: San Juan I (Miami, FL: Editorial Unilit, 1991), 48.

    [11]Norman R. Gulley, Christ Our Substitute (Washington D.C.: Review and Herald, 1982).

    [12]W. MacDonald, & A. Farstad, Believer's Bible Commentary: Old and New Testaments (Nashville: Thomas Nelson, 1997, c1995), s. Romans 5:14.

    [13]Ellen G. White, Cristo triunfante: meditação matinal 18 de setembro de 2002 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001), 267. A seguir: White.

    [14]Amin A. Rodor, O Incomparável Jesus Cristo (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2015), 30, 33.

    [15]White, Cristo triunfante, 267.

    [16]White, O Desejado de todas as nações, 312.

    [17]S. J. Kistemaker, & W. Hendriksen, New Testament commentary: Exposition of Hebrews. Accompanying biblical text is author's translation. (Grand Rapids: Baker Book House, 1953-2001), 15: 369.

     

    Cristo era divino ou humano? O que seu nascimento representa para a humanidade? Reflita em cada aspecto deste artigo e compartilhe.

Wilson Borba

Wilson Borba

Sola Scriptura

As doutrinas bíblicas explicadas de uma forma simples e prática para o viver cristão.

Bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus São Paulo. Possui mestrado e doutorado na mesma área pelo Unasp, campus Engenheiro Coelho. Possui um mestrado em Sagrada Escritura e outro doutorado em Teologia pela Universidade Peruana Unión (UPeU). Ao longo de seu ministério foi pastor distrital, diretor de departamentos, professor e diretor de seminários de Teologia da Igreja Adventista na América do Sul.