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Coluna | Rafael Rossi

A corrupção de cada dia

Será que nós também praticamos a corrupção no nosso cotidiano em pequenos atos? Leia esse artigo e pense a respeito.


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A corrupção na política parece estar se tornando comum hoje em dia, mas está acontecendo também em nossa vida cotidiana? (Foto: Shutterstock)

Como sempre faço, hoje entrei na internet para me atualizar com as últimas notícias. Os meus olhos passaram genericamente pela página e fui inundado com uma série de matérias tratando sobre os recentes casos de corrupção no Brasil. As denúncias tratam de contas secretas fora do país, mentiras, negociações para um processo de impeachment entre outras mais.

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As pessoas acreditam cada vez menos em seus governantes e servidores públicos. No mês de julho de 2015, o Ibope mostrou o resultado de uma pesquisa que revela o nível de confiança da população em diferentes categorias.

O nível de confiança dos brasileiros nas instituições políticas, por exemplo, desabou, neste ano, depois de ter ficado praticamente estável em 2014. As maiores quedas do chamado Índice de Confiança Social se deram em relação à presidente da República e aos partidos políticos, seguidos de perto pelo Congresso Nacional.

Por que há tanta corrupção em nossa sociedade? Onde estamos errando? Uma das respostas que tenho está relacionada com a ausência ou ineficácia de uma formação moral mais consistente em nossa população. O currículo educacional está com conceitos enfraquecidos que formam a ética, porque as disciplinas mais valorizadas são as que caem no vestibular. Com isso, as pessoas perdem a oportunidade para o desenvolvimento do livre pensar, ser, fazer e entender os motivos porque as coisas são como são.

A formação moral não é a única carência que temos no sistema educacional brasileiro. Seguimos em níveis baixos nessa área, como em qualquer outra área acadêmica. Infelizmente, estudantes brasileiros, quando participam de avaliações de matemática, física ou química, ficam sempre entre os últimos colocados.

Ensino da ética e da moral

É possível ensinar moral para alguém? Eu acredito que sim. É possível ensinar ética para alguém? Eu também acredito que sim. Para muitos brasileiros, reféns da precariedade no ensino moral, resta usar o tal “jeitinho brasileiro” como meio de tentar levar vantagem sobre o outro e acomodar seus interesses pessoais em detrimento do coletivo. Para mim, essa é a raiz da corrupção.

Vejam que o problema não está apenas no mundo político. Ali as coisas aparecem mais pelos holofotes que estão colocados, mas existe corrupção em outros lugares bem mais próximos daqueles que estão longe da vida pública. O que vemos, na política, é um retrato da sociedade que estamos construindo todos os dias.

Alguns exemplos devem ser considerados de como a corrupção permeia as nossas ações cotidianas e ceder a ela envolve escolhas. Por exemplo, um indivíduo que usa o toalete em um posto de gasolina em uma rodovia e decide fazer suas necessidades fisiológicas sem preocupação com os que virão depois. Ou o pai que mente a idade do filho para não pagar uma refeição no restaurante. Ou os que, no intenso tráfego das grandes cidades, encontram formas de furar as longas filas de acesso e se vangloriam por sua esperteza que o colocou na frente dos outros.

Os novos livros de administração apresentam a teoria Win-Win (Ganha-ganha) para parcerias onde todos ganham. Corrupção não é isso. É algo diferente, porque o que propõe a corrupção ganha ao oferecer favores ao que tem o poder de decidir que, por sua vez, também ganha, mas quem perde é a coletividade.

No final, somos todos responsáveis pela corrupção. Quando eu me permito corromper estou fazendo o mesmo que alguns da classe política fazem e que tanto nos entristece.

A politica brasileira é o reflexo do que somos. As mazelas morais não estão concentradas fora de onde estamos. A nossa sociedade é uma obra de todos nós. Ética é o aperfeiçoamento da convivência.

Voltando à pesquisa do Ibope, do outro lado da tabela, o primeiro colocado no ranking de confiança de 2015 foi o Corpo de Bombeiros, instituição que até melhorou seu índice em relação ao ano passado, de 73 para 81. Em seguida aparecem as igrejas (71), Forças Armadas (63) e os meios de comunicação (59).

Eu não tenho dúvidas de que a religiosidade é um fator importante para a formação moral das pessoas. Deus é um fator que auxilia famílias a adotarem comportamentos éticos até mesmo contrários aos valores culturais.

Há confiança na igreja e é aqui que eu entendo ser o papel dos cristãos na disseminação desses valores e na participação ativa para a construção de uma sociedade que se preocupa com a coletividade, e não apenas nas vantagens pessoais de alguns poucos.

Salomão disse em Provérbios 22 no verso 9: “Quando se multiplicam os justos, o povo se alegra, quando, porém, domina o perverso, o povo suspira”. Uma sociedade mais justa é também responsabilidade da Igreja e por isso quero lhe convidar a se comprometer com isso.

Faça o que for possível, porque o conselho bíblico é sempre oportuno: “Crede no Senhor vosso Deus e estareis seguros, crede nos seus profetas e prosperareis” (2 Crônicas 20:20).

 

Rafael Rossi

Rafael Rossi

Em dia com o nosso tempo

Os fatos diários lidos a partir de um olhar teológico.

Formado em Teologia, é pós-graduado em Aconselhamento e mestre em Teologia Pastoral. Atualmente é o diretor de Evangelismo da Igreja Adventista do Sétimo Dia para oito países sul-americanos. @rafaelrossi7