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Coluna | Neila Oliveira

Papéis invertidos

Os papéis de pais e filhos estão sendo modificados e isso é preocupante. Devemos esperar que, no futuro, as crianças eduquem seus pais?


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Foto: Shutterstock

Quando o Disney Channel anunciou que terá o primeiro romance gay em série infanto-juvenil (Veja online, 26/10/2017), me preocupei com alguns pontos evidentes na matéria. E antes que me julguem como preconceituosa ou intolerante, quero já esclarecer que o que menos me surpreendeu foi o assunto em si. Digo isso porque, no ritmo em que as coisas estão caminhando, era só uma questão de tempo para surgir algo dessa natureza nas produções relacionadas às crianças. Porém, como mãe cristã, gostaria de partilhar o que realmente chamou minha atenção e que considero digno de reflexão de nossa parte como pais:

  • O primeiro ponto é a idade do público-alvo. De acordo com os produtores, a série Andi Mack foi criada tendo em vista crianças de 6 a 14 anos. Pergunto: Não parece uma distância muito grande entre as faixas etárias para abordar os mesmos tipos de assuntos? De acordo com psicólogos, os 6 aos 12 são considerados os anos intermediários da infância. Ou seja, meninos e meninas ainda são crianças. Ou pelo menos deveriam ser. Assuntos graves e sérios como gravidez na adolescência (tema da primeira temporada de Andi Mack) e homossexualidade e auto aceitação (tema da segunda temporada) realmente deveriam ser apresentados, com todas as suas implicações e problemáticas, para crianças que deveriam estar curtindo as amizades e as brincadeiras próprias dessa fase da vida.
  • O porta-voz do canal fez a seguinte declaração: “Terri Minsky [a criadora da série], o elenco e todos os envolvidos no programa tomaram cuidado para garantir que o conteúdo seja apropriado para o público e para que seja uma forte mensagem sobre inclusão e respeito pela humanidade”. Ninguém discorda que as crianças precisam aprender a amar e respeitar o próximo. Isso é algo que os pais devem ensinar aos filhos desde que eles são bebês. Mas você sabe quais foram as fontes consultadas para que se fizesse a abordagem mais “adequada”? Não foram os profissionais da área de desenvolvimento infantil, e sim as associações LGBTQ. (Essas siglas estão ficando com tantas letras que daqui a pouco não vão caber em uma linha só.) A surpresa aí talvez seja a letra Q. Bem, ela se refere a Queer, uma expressão que a mídia divulgou bastante nos últimos meses no Brasil por causa da exposição do Santander. Porém, é possível que, como eu, você não saiba o significado dela. Então, vamos à explicação. De acordo com Judith Butler, a principal defensora da ideologia de gênero, “Queer é um movimento que toma uma direção não esperada, que contesta as normas dominantes, de modo que lésbicas, gays, intersex, bissexuais, trans, trabalhadoras sexuais podem viver com menos medo no mundo”. Considerando a comprovada influência da mídia televisiva sobre crianças e adolescentes na formação de opiniões, de conceitos e de comportamentos é seguro delegar a educação infantil a associações que denigrem os valores, a família, a religião e ainda banalizam o sexo?
  • O último ponto que gostaria de destacar tem de ver com o título que dei a este texto. Leia de novo: Papéis invertidos. Agora responda sinceramente: A quem cabe a responsabilidade de educar e ensinar valores aos filhos? No entanto, a proposta do canal em questão é diferente. As crianças, que estão crescendo com uma mentalidade mais aberta e receptiva para novidades, podem desempenhar o papel de educar os pais para que eles vejam o mundo com outros olhos – os olhos do amor e da tolerância para com todo tipo de situação. Essa filosofia não está presente apenas na série Andi Mack. Nos últimos anos, muitos canais infantis têm semeado suas ideologias em programas aparentemente inocentes.

Só para citar mais um exemplo, a relação homossexual já foi mostrada com super naturalidade em um desenho proposto para crianças de 2 a 5 anos de idade (Doutora Brinquedos). O episódio, que foi ao ar em agosto de 2017, ensinava as crianças a se preparar em caso de terremoto e não estava relacionado ao assunto da homossexualidade. No entanto, duas lésbicas, com seus filhos, eram as personagens principais do enredo. Chris Nee, a criadora do desenho que é exibido pelo Disney Junior, disse ter ficado incrivelmente surpresa com o apoio recebido pelo canal para retratar a realidade que ela própria vive. Desde 2014, Chris é casada oficialmente com Lisa Jane Udelson, com quem ela cria seu filho Theo.

Em uma entrevista, Nee disse que estava muito satisfeita pelo fato de seu personagem ter um histórico incomum para um personagem de TV e que isso influenciaria a próxima geração. Inclusive, ela já está trabalhando em uma nova série, com uma personagem chamada Vampirina. Segundo a autora, ela é a amiga que toda criança gostaria de ter. “Estou realmente tentando ensinar às crianças que vale a pena tentar encontrar o que elas têm em comum com as outras pessoas, em vez de procurar as diferenças”, concluiu.

Não há como negar. As crianças têm sido o alvo mais fácil para introduzir novos conceitos na sociedade. E, infelizmente, elas estão cada vez mais vulneráveis. Os desenhos e séries infantis têm sido um dos meios mais eficientes porque é ali que as crianças estão, é com aqueles personagens que elas vão buscar a identificação e a atenção que às vezes não encontram na família. As abordagens têm sido cada vez mais intencionais.

Como pais cristãos, o que devemos fazer? Aqui estão algumas dicas:

  • Assumir o papel de pais. Cabe a nós a responsabilidade de ensinar a nossos filhos os valores que desejamos que os acompanhem por toda a vida. Muitos pais não têm a menor noção do conteúdo dos desenhos e séries a que os filhos assistem, e como eles estão “educando” as crianças.
  • Avaliação e acompanhamento. É importante fazer uma avaliação bem criteriosa para selecionar o que deve ou não deve ser permitido. Estudos e experiências têm mostrado que, quanto menor a criança, maior a tendência para imitar o que ela vê na tela. O que a criança assiste certamente influenciará seu padrão de comportamento. Por isso, é essencial o acompanhamento e o monitoramento dos pais ou de uma pessoa responsável.
  • Diminuir o tempo de exposição à TV. Especialistas recomendam que crianças com menos de dois anos não fiquem sozinhas assistindo à TV. Isso não é seguro e nem sábio, pois ela estará absorvendo indiscriminadamente conteúdos que podem distorcer a forma de interpretar a realidade. Crianças maiores também não devem passar muito tempo em frente à TV. Estipule um horário e estimule a criança a ter outras atividades que não envolvam TV, computadores, tablets, etc.
  • Não privilegiar o espaço da TV. Se possível, coloque o aparelho em um cômodo que não seja o melhor da casa. Isso demonstra que a TV não é a principal atração da família. Não é recomendado que a criança tenha televisão no quarto.
  • Intencionalidade em nossas abordagens. Precisamos ser intencionais em nossas abordagens. Se o mundo está tentando envolver de forma sedutora as crianças com filosofias contrárias ao que acreditamos, devemos tomar tempo para conversar com elas e explicar o que é certo, usando como ponto de partida a Palavra de Deus. As crianças precisam aprender a desenvolver o senso crítico, e a melhor maneira é dando a elas os parâmetros e as referências corretas. A pergunta-chave é: A mensagem desse programa transmite os valores que desejo que meu filho aprenda?

Dois professores da Universidade Andrews produziram um excelente artigo sobre assistir programas seculares de TV, sob uma perspectiva cristã. Além de prover orientações valiosas e equilibradas sobre o uso da TV, eles deram o que chamo de “tiro certeiro” para a razão de procurarmos ser cada vez mais criteriosos quanto ao que permitimos que entre em nossa casa pela porta da frente: A mídia televisiva tem se preocupado cada vez menos em apresentar a importância de Deus na vida das pessoas. E uma sociedade sem Deus está fadada à decadência.

Neila Oliveira

Neila Oliveira

Geração Escolhida

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Licenciada e pós-graduada em Letras, trabalha na redação da Casa Publicadora Brasileira (CPB) há mais de 30 anos. É autora de livros infanto-juvenis e coordenadora editorial da Lição da Escola Sabatina dos adolescentes.