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Coluna | Neila Oliveira

Antes que seja tarde demais

Às vezes, pode ser tarde demais pensar naquilo que as crianças consomem em termos de conteúdos comunicacionais.


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antes-que-seja-tarde-demaisA responsabilidade legítima na educação dos filhos é dos pais.

Era uma quinta-feira de manhã e estávamos nos dirigindo à escola para deixar nossos filhos, antes de irmos para o trabalho. De repente, vimos uma criança correndo no meio de uma movimentada rua de nossa cidade. O menino não devia ter mais do que cinco anos. Estava de shorts e camiseta, com os pés descalços. Rindo, ele corria despreocupadamente, enquanto dois adultos tentavam pegá-lo e levá-lo para um lugar seguro. A cena aconteceu bem diante de nós, e só então percebemos que os adultos nem eram os pais da criança. Eram apenas pedestres que também viram o perigo e tentavam impedir que o pior acontecesse. Para o garotinho, tudo não passava de uma brincadeira de pega-pega.

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Um rapaz conseguiu se aproximar e, enquanto os carros paravam, ele agarrou o menino e o segurou no colo. A última coisa que vimos foi alguém ligando para o 190, possivelmente para tentar localizar os pais da criança. Pelos trajes, tivemos a impressão de que o garoto tinha acabado de acordar e saiu à rua sem que os responsáveis percebessem. Fiquei pensando na reação da mãe quando percebeu que o filho não estava em casa e no desespero que deve tê-la acometido ao saber do risco a que o menino estivera exposto. Talvez o senso de culpa tenha atormentado os pais durante alguns dias, com a pergunta implacável: como pudemos deixar que isso acontecesse?

Enquanto aquela cena desesperadora vinha à minha mente, não pude deixar de fazer uma analogia com a situação de muitas famílias hoje. Será que as crianças estão realmente protegidas e seguras? Poderiam elas estar “perdidas” dentro de casa? Como pais, estamos assumindo a responsabilidade não só pelo bem-estar e integridade física delas, mas também por seu desenvolvimento emocional e espiritual? Ou estamos transferindo essa responsabilidade para outros?

Uma amiga, líder do Ministério da Criança e Adolescentes em um estado do Sul do Brasil, me enviou recentemente um áudio revelador. Trata-se da experiência que uma mãe teve com seu filhinho de apenas quatro anos de idade. De uma hora para outra, a criança começou a questionar por que tinha que ser menino. Por que não poderia ser uma menina? Os pais conversaram e explicaram, mas o menino continuou insistindo na ideia. Certo dia, enquanto a mãe estava preparando o almoço, o menino entrou na cozinha e perguntou por que ela havia mentido para ele. Então, ele afirmou de forma desafiadora que poderia ser menina, sim. Ele poderia ser o que quisesse. A mãe perguntou quem havia dito isso. E ele respondeu: “o meu amigo, que vem todos os dias brincar comigo.”

Como a mãe sabia que nenhuma outra criança tinha vindo brincar com o filho, ela perguntou que amigo era esse. A resposta foi surpreendente. O menino disse que o amigo estava sentado no sofá. Porém, não havia ninguém ali. Usando a psicologia, a mãe pediu que a criança descrevesse o tal amigo. Ela “gelou”, quando percebeu, pelos detalhes, quem era a figura que o menino estava descrevendo.

Atônita, a mãe disse ao menino que aquele “amigo” deveria ir embora imediatamente. Em seguida, ela levou o filho para o quarto e começou a orar com ele, pedindo perdão a Deus por ter deixado “brechas” por onde o inimigo estava não só passando, mas dia-a-dia se instalando naquele lar.

Só essa parte da história já seria suficiente para deixar dedicados pais e mães assustados. Mas, na sequência, a mulher contou que passou a orar diariamente para que Deus lhe mostrasse onde estavam as falhas. Como o menino passava grande parte do tempo em frente à televisão, ela decidiu assistir aos desenhos animados que a criança estava acostumada a ver. Agora tudo fazia sentido! No áudio, ela mencionou desenho por desenho e descreveu inclusive algumas cenas com mensagens explícitas demais para qualquer faixa etária.

A imagem da criança que mencionei no início do texto, correndo despreocupadamente, sem noção do perigo ao qual ela estava exposta, e a mensagem de alerta dessa mãe, me levaram a pensar nas advertências que Ellen G. White dá no livro Orientação da Criança. Quero partilhar algumas delas com você:

  • “Pais, despertem de sua sonolência espiritual e compreendam que os primeiros ensinos que a criança recebe devem ser dados por vocês. Devem ensinar seus pequenos a conhecer a Cristo. Vocês devem fazer esse trabalho antes que Satanás lance suas sementes no coração deles” (página 17).
  • “Os pais precisam compreender sua responsabilidade. O mundo está cheio de armadilhas para os pés dos jovens” (página 15).
  • “As influências educativas do lar são uma força decidida para o bem ou para o mal. [...] Se a criança não for instruída corretamente ali, Satanás a educará por meio de fatores escolhidos por ele” (página 12).
  • “O Senhor não justificará a falta de controle dos pais. Centenas de filhos hoje enchem os exércitos do inimigo vivendo e trabalhando longe do propósito de Deus. São desobedientes, ingratos e não santificados; mas o pecado está à porta de seus pais. Pais cristãos, milhares de filhos estão perecendo em seus pecados devido à falha dos pais em governar sabiamente o lar” (página 127).

Sem dúvida, esses “puxões de orelha” doem. Mas, às vezes, eles são necessários para que despertemos e assumamos a responsabilidade legítima que temos como pais. Não seremos desculpados se transferirmos o controle da situação para outros canais que não sejam os indicados por Deus. Temos luz suficiente na Bíblia e nos testemunhos proféticos para não errarmos quanto à nossa missão. As crianças precisam ser conduzidas e orientadas para que o caráter delas seja um reflexo do caráter do Pai. Antes que seja tarde demais...

Neila Oliveira

Neila Oliveira

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Licenciada e pós-graduada em Letras, trabalha na redação da Casa Publicadora Brasileira (CPB) há mais de 30 anos. É autora de livros infanto-juvenis e coordenadora editorial da Lição da Escola Sabatina dos adolescentes.