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Coluna | Michelson Borges

A Bíblia é realmente muito antiga

A arqueologia já confirmava isso. Agora é a vez da matemática


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Sempre surge alguém tentando descaracterizar a Bíblia Sagrada, argumentando que seu texto seria muito mais recente do que se crê e que, portanto, suas profecias não seriam realmente predições, mas histórias redigidas depois que os acontecimentos tiveram lugar.

Quanto ao Antigo Testamento, nunca é demais destacar a importância dos Manuscritos do Mar Morto. Até meados de 1947, o manuscrito mais antigo disponível no qual era baseada toda a tradução do Antigo Testamento datava de algo em torno do ano 900 depois de Cristo. Havia um lapso quase instransponível entre os originais perdidos e a única cópia à disposição dos acadêmicos. É bem no meio desse vasto e largo abismo que surgem os famosos Manuscritos do Mar Morto, descobertos acidentalmente em 1947 por um pastor de cabras, na região do Mar Morto, na Jordânia.

Os manuscritos ali encontrados foram datados com segurança entre 250 antes de Cristo até por volta do ano 70 depois de Cristo. Cópias de todos os livros do Antigo Testamento foram encontradas, com exceção do livro de Ester, que muito provavelmente era conhecido pelos essênios, os prováveis moradores da comunidade que produziu os documentos, como é evidenciado em alguns manuscritos de comentários desse livro.

Em relação aos manuscritos do Novo Testamento, há uma infinidade deles. Somente em grego, são em torno de 5.500. Em outras línguas, como latim, armênio, etíope, copta, etc., o número é superior a 20 mil. Cópias de vários séculos estão à disposição de qualquer crítico textual, demonstrando assim a integridade do texto do Novo Testamento.

Portanto, alegar que a Bíblia Sagrada seria uma obra mais ou menos recente é simplesmente admitir que se desconhecem os fatos. Mas tem mais.

Foram feitas várias descobertas arqueológicas relacionadas diretamente com a Bíblia. Calcula-se que aproximadamente 40 personagens bíblicos tenham sua historicidade confirmada por meio de documentação arqueológica. É o caso do rei Davi; do líder religioso de Israel na época de Jesus, Caifás; do rei Ezequias; de Pôncio Pilatos; do rei Jeú; de Baruque, secretário de Jeremias; e de Herodes, o Grande. E o mesmo pode ser dito a respeito de diversas localidades relacionadas com a história sagrada, que estiveram soterradas durante milênios em locais inóspitos do Oriente Médio. Alguns exemplos são Cafarnaum, Jericó, o tanque de Siloé, Babilônia, Ur dos Caldeus, Nazaré e Ebla.

Sir William Ramsay era um cético que não reconhecia a historicidade das Escrituras. Influenciado pelos pressupostos do Iluminismo presentes na teologia alemã do século 19, ele foi à Ásia Menor com o único propósito de desacreditar a geografia e a história do livro de Atos, no Novo Testamento. Porém, todas as pesquisas arqueológicas dele mostraram o contrário. Ramsay considerou o livro de Atos autoridade em assuntos como topografia, antiguidades e sociedade da Ásia Menor; um “aliado útil” em escavações obscuras e difíceis. Além disso, passou a se referir a Lucas como um “historiador de primeira grandeza”.

Em seu livro Razão, Ciência e Fé, o doutor em Filosofia pela Universidade de Chicago, J. D. Thomas, diz o seguinte: “Nesse conflito entre a Bíblia e a ciência, segundo o ponto de vista popular, notemos que existe na realidade uma tensão entre a Bíblia e o Cientismo [teoria que defende ser a ciência o único método para o conhecimento de todas as coisas] e não [uma tensão] entre a Bíblia e a ciência.” E isso ficou claro uma vez mais com uma pesquisa recente feita, desta vez, por matemáticos.

O artigo com os resultados da pesquisa foi publicado no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Eles usaram inteligência artificial para criar uma estimativa de quantas pessoas poderiam ler e escrever durante certos períodos da Antiguidade. O grupo desenvolveu novas técnicas de processamento de imagens e reconhecimento de caligrafia. A tecnologia foi utilizada para investigar 16 inscrições encontradas em um forte em Arad, próximo ao Mar Morto.

Conforme informações da revista brasileira Galileu, as inscrições são datadas de 600 antes de Cristo e detalham alguns comandos militares comuns e pedidos de suprimentos. “Foram escritos em um tipo de cerâmica chamada ostraca durante o período do Primeiro Templo, 24 anos antes que o Reino de Jerusalém fosse conquistado pelo reinado babilônico. Até aí, tudo bem: a maioria dos pesquisadores concorda que os textos mais antigos são dessa época, representando que uma pequena elite estaria lendo e escrevendo nesse período. Mas será mesmo?”

Liderados pela matemática Shira Faigenbaum-Golovin, da Universidade de Tel Aviv, os pesquisadores recuperaram as inscrições usando os processadores de imagem e, então, utilizaram a ferramenta de reconhecimento de caligrafia para determinar quantas pessoas realmente escreveram na cerâmica. Com isso, dirimiram as dúvidas. A análise revelou pelo menos 16 autores diferentes na ostraca. Ao examinar o conteúdo do texto, os pesquisadores identificaram todas as posições militares de comando. Arie Shaus, uma das matemáticas da pesquisa, explica: “Até os comandantes de nível mais baixo podiam se comunicar por meio da escrita. Foi bastante surpreendente. ”

Conclusão da Galileu: “Se até os militares de patente mais baixa conseguiam ler e escrever por volta dos anos 600 a.C., é possível entender que a ‘proliferação da literatura’ já havia ocorrido muito antes, e que isso traz implicações para quando os primeiros livros da Bíblia foram escritos.” Segundo o arqueólogo ateu Israel Finkelstein, “se um grande número de pessoas pudesse ler o texto, seria mais fácil distribuir essas ideias para a população”. No caso da Bíblia, foi exatamente essa a ideia.

É interessante lembrar o relato de Juízes 8:14 segundo o qual um rapaz (algumas versões trazem “escravo”) escreveu uma lista de nomes para Gideão. Assim, em 1400 a.C., a maioria da população israelita era alfabetizada e capaz de ler as Escrituras.

A pesquisa dos matemáticos pode empurrar a origem dos primeiros textos bíblicos pelo menos dois séculos para o passado (ou mais, à medida que as técnicas forem aprimoradas). Podem ainda não ser as cronologias mais precisas, mas já servem para silenciar alguns críticos defensores da ideia de que a Bíblia teria sido resultado de uma composição bem mais recente do que se crê.

A arqueologia já vinha silenciando muitos críticos. Agora é a vez da matemática também fazer isso. Mais um ponto para a Bíblia.

Michelson Borges

Michelson Borges

Ciência e Religião

As principais descobertas da ciência analisadas do ponto de vista bíblico.

Jornalista, é editor na Casa Publicadora Brasileira (CPB) e autor de vários livros, como A História da Vida e Por Que Creio. Pós-graduando em Biologia Molecular e mestre em Teologia, é membro da Sociedade Criacionista Brasileira e tem participado de seminários em diversos lugares do Brasil e do exterior. Mantém o blog criacionismo.com.br @criacionismo