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Coluna | Luiz Gustavo Assis e Marina Garner

A cidade de Abrão

“Toda mulher gostaria de casar com um arqueólogo, pois quanto mais velha ela se torna, mais o esposo a apreciará”. Essas são conhecidas palavras da célebre escritora britânica Agatha Christie. Curiosamente, ela pode experimentar o amor de um arqueólo...


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“Toda mulher gostaria de casar com um arqueólogo, pois quanto mais velha ela se torna, mais o esposo a apreciará”. Essas são conhecidas palavras da célebre escritora britânica Agatha Christie. Curiosamente, ela pode experimentar o amor de um arqueólogo em sua vida. Após um casamento conturbado, a referida autora casou-se com um dos auxiliares de Sir Leonard Wooley, o responsável pelas escavações arqueológicas de cidade de Ur dos Caldeus, o lar do importante patriarca bíblico Abraão. Ela mesma participou de algumas escavações com seu marido Max Mallowan neste local. fonte: http://www.britishmuseum.org

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Agatha Christie nas ruínas de Chagar Bazar, no norte da Síria, em 1935.

Existe um certo debate sobre a exata localização de Ur, mas até o momento todas as informações levam a concluir que Tell-el- Muqayyar, o sítio arqueológico escavado por Wooley e sua equipe entre 1922 e 1933, não muito longe da atual Bagdá, seja de fato o local da antiga Ur. Tal cidade era um grande centro cultural, político, econômico e religioso por volta do ano 2200 a.C, como atestam inúmeros tabletes cuneiformes encontrados nas ruínas de el-Muqayyar. Sua grandeza foi alcançada pelo rei Ur-Nammu, e solidificada pelo seu filho e sucessor Shulgi, justamente na época em que Abraão viveu, de acordo com informações cronológicas do livro de Gênesis.

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Zigurate de Ur dos Caldeus dedicado ao deus Nanna. Fonte: ancient.eu.com

Sem dúvida a construção que melhor representa Ur é o seu zigurate, uma torre-templo dedicada ao deus-lua Nanna. São aproximadamente 25 metros de altura, e por ser uma região muito plana, qualquer um poderia avistar este edifício a alguns quilômetros de distância. Alguns têm sugerido que a população de Ur deveria ser em torno de 25 a 30 mil habitantes. Para estes, o sentimento da proteção de Nanna seria garantido com um simples olhar no horizonte, na direção de Ur.

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Escavação conduzida por Wooley em Ur. Fonte: asorblog.org

Foi nesse meio que Abrão (posteriormente Abraão) viveu por vários anos. A narrativa bíblica o descreve como alguém abastado. Além de muitos animais, o patriarca bíblico possuía muitos servos (conforme Gênesis. 12:5). Sendo assim, Ur era ideal para a vida econômica e social de Abrão e sua esposa Sarai. No entanto, a ordem divina encontrada em Gênesis 12:1 era explícita: “sai da tua terra”. Na língua em que originalmente este texto foi escrito, o hebraico, a ordem se torna mais dramática. A expressão lech-lechá pode ser traduzida como “vai-te” ou “vai por ti mesmo”. De maneira estranha, um Deus, que não era Nanna, o patrono de Ur, estava pedindo para Abrão abandonar a próspera cidade e partir para uma terra desconhecida (“partiu Abraão sem saber para onde ia”, conforme Hebreus 11:8). Qual o motivo de tal pedido? Podemos listar pelo menos três: o primeiro, que tinha que ver com o conhecimento de Deus. Até aquele momento, esse conhecimento havia sido transmitido por homens como Sete, Enos, Enoque, Noé e seu filho Sem. Esse conhecimento deveria ser passado adiante, e Abrão foi o escolhido para levar essa mensagem para todos os povos da terra (Gênesis. 12:3). Um segundo motivo envolve a idolatria de Ur. Nanna era o principal deus da cidade, mas não o único. Os povos do Antigo Oriente Médio eram conhecidos pela idolatria. Por causa disto, a espiritualidade do patriarca estaria ameaçada se ele permanecesse ali com sua família (conforme. Josué 24:15). Finalmente, um último motivo tem a ver com as bênçãos divinas prometidas em Gênesis 12:2-3. Por cinco vezes o substantivo hebraico berak (bênção) aparece nestes dois versos. Não apenas Abrão estava sendo abençoado, mas todas as nações da terra deveriam ser abençoadas através dele e dos seus descendentes. Em outras palavras, a família de Abrão seria um condutor de bênçãos para toda humanidade. Tal responsabilidade envolvia abandonar Ur. Somente assim aquelas promessas poderiam ser realizadas.

Apesar de estarmos falando de uma cidade que teve seu apogeu há mais de quatro mil anos e um dos seus habitantes, creio que exista uma lição para nós que vivemos em pleno século 21. Eu não ficaria surpreso se encontrasse uma “Ur dos Caldeus” em minha vida. Ao olhar para meu coração, é provável que eu encontre alguma coisa que ofusque o conhecimento de Deus na minha vida e atrapalhe meu relacionamento com Ele, e sem dúvida impeça que Sua bênçãos sejam derramadas no meu lar. Portanto, é necessário submetermos diariamente nossa mente Àquele que tudo conhece e permitir que Ele nos revele o caminho que devemos seguir.

Luiz Gustavo Assis e Marina Garner

Luiz Gustavo Assis e Marina Garner

FÉ RACIONAL

Arqueologia bíblica e filosofia.

Bacharel em Teologia pelo UNASP C2 (2007). Trabalhou como Capelão e Professor de Ensino Religioso no Colégio Adventista de Esteio, RS, e como Pastor Distrital em Caxias do Sul e em Porto Alegre, RS. Atualmente está fazendo seu mestrado em Arqueologia do Oriente Médio e Línguas Semíticas na Trinity International University, nos EUA. Marina Garner é Mestrando em Filosofia da Religião na Trinity International University e Bacharel em Teologia pelo UNASP C2 (2009). Sua área de pesquisa é Filosofia da Religião.