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Coluna | Jael Eneas

“Ano Novo” pede música!

Nosso Pai celestial quer lhe dar, a cada dia, novas alegrias e novos motivos para sorrir.


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A chegada do ano novo suscita novos imaginários. A indústria cultural sabe disso e, por esta razão, explora a temporada para lançar novos clipes, jingles, performances, multishows, enfim, música nova. Dependendo do mercado, produz-se “releitura” de antigos sucessos no formato de playlists, caixas e álbuns. Trata-se, portanto, da catarse humana diante do novo.

A onda começa sempre no final de ano, pois é a melhor época para se usar a palavra “novo”, às vezes, em coisas nem tão novas assim. O caso de Taylor Swift, 24 anos, é emblemático. Seu disco “1989” persegue o novo. A cantora muda o estilo, de country para o pop, pressionada pela sensação do novo: “Querido, eu sou um pesadelo disfarçado de sonho”, canta Taylor em Blank Space.

Versos que parecem disparatados, mas, na verdade, não são, visto que o novo se guia pela difícil lógica do imponderável. Nesta toada, ano novo vira balcão de apostas em lançamentos de catarse.  “[A cantora] que faz autoficção nas suas letras agora adota uma atitude bem-humorada diante do que deu errado, na carreira e na vida”, publicou Veja[1].

Segundo os dicionaristas, catarse, do grego “kátharsis”, significa libertação, purgação, purificação, em outras palavras, “libertação do que é estranho”, e, no contexto deste artigo, “libertar-se do que é velho” e “deslumbramento pelo novo”. Desde Aristóteles o assunto se impõe, no sentido do “novo” provocar a depuração, o expurgo, como argumenta Almeida (2010), ao revisitar A Eficácia Simbólica de Lévi-Strauss[2].

No caso de Taylor Swift, o “novo” se torna em arquétipo em que a “novidade” atira para dois lados: na passagem de ano, como tempo de reflexão, e na receita de 64 milhões de dólares, oriundos de shows e contratos publicitários, só de junho de 2013 a junho de 2014, como fonte de lucro.

Música de Réveillon

A catarse do novo aparece também na famosa canção “Adeus, Ano Velho! Feliz Ano Novo!”. Cantada à exaustão, a música criada por Chico Alves, em 1951, tem letra do compositor e jornalista David Nasser[3]:

Adeus, Ano Velho!
Feliz Ano Novo!
Que tudo se realize
No ano que vai nascer
Muito dinheiro no bolso
Saúde para dar e vender.

Para os solteiros
Sorte no amor
Nenhuma esperança perdida.

Para os casados
Nenhuma briga
Paz e sucesso na vida.

Aqui o “ano novo” tem uma canção, mas, infelizmente, não tem o mais importante: a “nova canção”. Despede-se do velho, anseia-se pelo novo, todavia, o “ano que vai nascer” se fundamenta em “muito dinheiro no bolso”, portanto, em coisas velhas, temerárias e passageiras. A música pode ser nova, mas, paradoxalmente, pode não ser “nova” na essência e na natureza. Então, o que é realmente “novo”, afinal?

É algo que nasce realmente do inusitado, do surpreendente, aliás, é “novo” justamente porque nunca existiu antes. Isto é diferente daquilo que se tornou “novo” porque foi adaptado do “velho”. Pensar sobre isto faz toda diferença ao pisar a fronteira de um novo ano.

Michael Jackson

No réveillon também é comum cantar-se Marcas do que se foi, música de Zezé Di Camargo e Luciano (Este ano quero paz no meu coração/ Quem quiser um amigo que me dê a mão); A Paz, do Grupo Roupa Nova (Só o amor muda o que já se fez/ E a força da paz junta todos outra vez/ Venha, já é hora de acender a chama da vida/ E fazer a terra inteira feliz); e até Michael Jackson com Heal the World, Cure o Mundo (Se você se importar com os vivos/ Abra um espaço, faça um lugar melhor/ Cure o mundo.../ Para mim e para você, e toda raça humana”).

Classificada como “solft rock” e até “gospel” por críticos musicais, Heal the World correu o mundo sob signo do novo. O clipe inova ao trazer imagens de guerras, crianças, soldados, cenas urbanas desoladas, sob efeitos cinematográficos. Como foi lançado em novembro de 1991, a “novidade” era um grito de paz para um ano novo que começava. Embora o clipe termine com soldados desfazendo-se das armas, crianças sorrindo e milhares de velas brancas, o mundo continuou um desastre.

Outro desastre, no entanto, ocorre 18 depois: a morte do próprio Michael Jackson, por overdose de remédios, em junho de 2009. O que era “novo” sucumbe tragicamente diante do “velho”, da tristeza, drogas e falso glamour. Mais tristeza: o próprio médico particular do pop star, Conrad Murray, é condenado por ministrar dose excessiva Propofol e a AEG Live, a promoter, disse: “Michael Jackson era viciado em drogas fortes e escondia o fato até de seus familiares”[4]. A conclusão: nada é novo quando não se tem Cristo.

O “Novo” e a “Experiência”

A Bíblia relaciona o “novo” ao cântico a partir da natureza e da essência. “Entoai-lhe novo cântico, tangei com arte e com júbilo” (Sl 33:3). Davi ainda se expressa, e “me pôs nos lábios um novo cântico...” (Sl 40:3), para sublinhar que se tenho um “novo cântico” é porque, primeiro, Deus agiu em mim; segundo, porque é Deus quem dá sentido à minha experiência presente e futura. Isto muda tudo!

O apóstolo João, em visão na Ilha de Patmos, atesta um fato: Cristo toma o livro da mão direita dAquele que estava sentado no trono. Neste exato momento, entoa-se o “novo cântico” que “surge de uma experiência única: a salvação por meio da vitória de Jesus Cristo”[5].

Inicie 2015 dando espaço para o Espírito Santo dirigir sua vida, planos, sonhos e sua experiência. Aqui está a diferença entre uma “música nova” e uma “nova música”. A primeira é um recape para tornar o velho com cara de novo, em que o superficial se compra pelas esquinas da vida. A segunda é a inversão dessa lógica. A canção soa diferente porque não é um arranjo do velho, mas, Cristo, por Sua graça e misericórdia, faz você “novo” outra vez, sem trincas ou rachaduras.
Agora sim você tem motivos para cantar: “Adeus, Ano Velho! Feliz Ano Novo! Que tudo se realize porque só Cristo pode realmente criar e recriar tudo de novo!

Feliz 2015!

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[1] KUSUMOTO, Meire. “Por que Taylor vai Salvar a Indústria Musical”.  Revista Veja Digital. 01.Nov.2014. Atualizado às 10h58. http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/por-que-taylor-swift-vai-salvar-a-industria-musical Acesso em 15.Dez.2014 às 10h20.

[2] ALMEIDA, W. Castelo. “Além da Catarse, Além da Integração, a Catarse de Integração”.  Revista Brasileira de Psicodrama, ISSN 0104-5393. Vol 18 no. 2 São Paulo, 2010. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S0104-53932010000200005&script=sci_arttext. Acesso em 16.Dez.2014 às 23h15.

[3] MÚSICA “Adeus, Ano Velho! Feliz Ano Novo!”.  Disponível https://www.youtube.com/watch?v=3ajbyPaBJqM. Acesso em 15.Dez.2014 às 14h35.

[4] ALAN, Duke. “AEG not liable in Michael Jackson´s death, jury finds”.  CNN Edition Internacional. Disponível: http://edition.cnn.com/2013/10/02/showbiz/michael-jackson-death-trial-verdict/ Acesso em 15.Dez.2014 às 18h05.

[5] DORNELES, Vanderlei. “Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia”.  1ª ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014, p. 855. ​

Jael Eneas

Jael Eneas

Louvor e Música Cristã

Música cristã como expressão de louvor a Deus.

Mestrando em teologia e diretor de desenvolvimento espiritual do UNASP, Campus Hortolândia. Compôs “Colheita 90”, “Nacional 89” para DSA. Lecionou música sacra para o SALT. Durante 21 anos liderou o ministério de música, comunicação e educação em Associações e Uniões nas regiões norte, noroeste e sudeste. Participou da Comissão Revisora do Hinário Adventista em 1996. Twitter: @jaeleneas