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Coluna | Hildemar Santos

Erva medicinal?

Notícias têm destacado a utilização da maconha como substância medicinal. Neste artigo o autor explica que não é bem assim que a erva atua no corpo humano.


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Oito a vinte por cento dos usuários de maconha ficam dependentes da erva.

Jane era fumante por vários anos e decidiu parar. Fizemos a avaliação inicial e demos as devidas orientações para ela deixar o hábito. Confesso que não tinha muita fé em sua recuperação já que ela tinha mais de sessenta e fumava 1 maço por dia por mais de trinta anos. Depois de um mês quando a paciente retornou para a reavaliação relatou que havia conseguido parar totalmente. Fizemos o cheque do monóxido de carbono (MC) com a máquina Smokelizer e seu resultado foi de 26. Seu resultado inicial foi 25, assim não dava para entender como a paciente tinha um nível aumentado de MC se havia parado totalmente de fumar por quase 3 semanas. O nível normal para um não fumador é de 6 ou menos. Quando estava pronto para encaminhá-la ao especialista para uma melhor avaliação de seu pulmão, ela me disse: “Doutor, me esqueci de informar um fato, eu parei de fumar cigarros mas ainda fumo maconha por causa de minha artrite”.

Com este simples caso posso explicar como a maconha, que agora toma a reputação de erva medicinal, tem na verdade vários efeitos colaterais que a põe numa categoria não tão medicinal como parece, principalmente se for inalada. Na verdade, não e difícil de arrazoar sobre isto porque fumaça é fumaça e não faz bem para os pulmões de ninguém. Seja fumaça de cigarro, poluição ou maconha!

De uma forma geral as indicações médicas para a maconha se resumem em seu efeito de diminuir a náusea e o vômito de pacientes que tem câncer ou SIDA bem como de aumentar o apetite nestes pacientes. Outras aplicações são para a dor, para asma e talvez ofereça um alívio aos sintomas da doença esclerose múltipla. De fato a maconha não tem propriedades curativas mas apenas sintomáticas, e mesmo assim existem outros vários medicamentos com propriedades similares. Um outro problema é o fato de que muitos destes benefícios ainda não foram comprovados cientificamente.

Antes de falarmos sobre os efeitos prejudiciais da erva devo mencionar que ainda que a maconha tenha indicação médica, a qual não duvido que tenha, o grande problema de inalar a fumaça da erva deveria ser um obstáculo suficiente para desaconselhar seu uso como cigarro. E, quem sabe, dirigir a indústria médica a desenvolver derivados de maconha que não produzam fumaça como pílulas, injeções ou adesivos.

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A lista de problemas provenientes do uso da maconha é realmente bem maior que a lista de benefícios, e tem sido mais pesquisada sendo assim mais aceita cientificamente. A lista começa com um efeito meio assustador relacionado à esquizofrenia, a maconha pode desenvolver reações semelhantes às da esquizofrenia tais como alucinações auditivas e visuais, “contato” com pessoas invisíveis, e crises em que a pessoa pensa estar em outro mundo ou outra era. Ainda não está provado que a erva causa esquizofrenia por certo, porque as crises são reversíveis.

Mas a lista continua, a maconha pode causar depressão, taquicardia, arritmia, problemas reprodutivos, dependência e câncer. Indivíduos que fumam um cigarro de maconha por dia têm o mesmo risco de câncer de pulmão que aqueles que fumam um maço de cigarros por dia. A erva causa supressão do sistema imunitário e há evidências de um aumento no risco de câncer da boca, língua, garganta e pulmões em seus usuários. No estado da Califórnia a maconha é considerada agente cancerígeno em potencial.

Como a maconha pode produzir taquicardia e mesmo arritmias, é totalmente desaconselhável para pessoas com problemas cardíacos aumentando o risco de morte naqueles que especialmente sofrem das coronárias – a qual é a maior causa de morte no mundo inteiro.

E, para os adultos jovens é necessário informar que a maconha reduz a produção do esperma e a produção de testosterona e diminui o tamanho dos testículos nos homens. Para a mulher, a maconha pode produzir alterações no período menstrual. Um outro problema é em relação aos acidentes de carro já que o uso da maconha diminui os reflexos e dá ao usuário uma diferente perspectiva de coisas em movimento.

Oito a vinte por cento dos usuários de maconha ficam dependentes da erva. Os sintomas de abstinência – quando o uso da substância é interrompido – são: irritabilidade, agressão, ansiedade, depressão, insônia, sudorese, náusea, vômito, taquicardia e intensa vontade de usar a erva. Estes sintomas desaparecem quando a pessoa começa a usar a erva novamente demonstrando seu poder de dependência.

Depois deste relatório sobre a maconha, existem suficientes evidências para condenar o seu uso. Somente o fato de que a erva pode suprimir o sistema imunitário já e o bastante para o veredito. E depois, é uma substância que produz depressão, portanto esta erva está fora do meu cardápio de substâncias medicinais. O argumento de que a erva não é tão prejudicial quanto o fumo ou o álcool, é até certo ponto válido, porém não se justifica um mal porque há outros piores. O fumo e o álcool são substâncias prejudiciais e aditivas e a maconha pode não ser tão prejudicial com seus “primos”, porém isto não invalida seus efeitos – eles estão lá.

Finalizando, o conselho é ficar longe desta erva e evitar que seus filhos sejam submetidos a fumaça da mesma.

Referência: James Rippe, Lifestyle Medicine, 2013.

Hildemar Santos

Hildemar Santos

Saúde e Espiritualidade

Como prevenir doenças e ter uma vida saudável.

Médico e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Loma Linda, nos Estados Unidos