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Coluna | Felipe Lemos

Os riscos que corre a imagem de Jesus Cristo

O Salvador e de Seus ensinos podem sofrer abalos por conta da comercialização da imagem do ícone principal do cristianismo.


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Essa notícia que li procedente da Argentina, publicada em diferentes veículos de comunicação latino-americanos, é um sintoma de algo maior. Vamos entender. Dois artistas da cidade de Rosario, há alguns dias, publicaram em seus perfis nas redes sociais versões que fizeram da conhecida boneca Barbie Maria, mãe de Cristo (ou Virgen, como é conhecida nos países hispanos) e do boneco Ken o próprio Jesus Cristo.

Já faz tempo que a imagem de Jesus se tornou artigo popular e midiático. E infelizmente de uso banal. São filmes, sites, desenhos animados ou não, novelas, programas de TV, rádio, quadros, peças teatrais, músicas, etc. Em todas essas manifestações se vê um desejo de querer destacar um ou outro aspecto do caráter e da vida de Jesus. Grande parte desses materiais, no entanto, não possui qualquer fundamentação bíblica e muitas vezes nem histórica. Jesus é retratado como grande psicólogo, administrador, comunicador, professor, líder, revolucionário, enfim, usa-se a imagem de Cristo como referência para inúmeras áreas do conhecimento humano.

E esse novo boneco da linha Ken, que na verdade é baseado totalmente nas supostas imagens de como seria Jesus, só reforça o conceito de que a religião corre atualmente alguns riscos. Falo aqui especificamente da religião cristã e principalmente do seu personagem principal, Jesus Cristo. Mas quais são esses riscos e por que são riscos?

1.Jesus e Seus ensinos estão se tornando uma moda e não uma verdade – Se por um lado a popularização de Jesus, cuja imagem está estampada desde camisetas promocionais até canecas para se tomar leite, pode parecer boa, por outro lado inspira cuidados. Biblicamente falando, Jesus e os princípios sobre os quais fundamentou Seu ministério terrestre não são artigos de moda que podem ser descartados facilmente ao gosto das pessoas. Na Bíblia, se você ler textos como João 17:17 e João 14:6, fica explícito que Jesus é a verdade e Sua Palavra também. É totalmente diferente pensar em uma coleção de roupas para determinada estação do ano (cujo interesse é totalmente comercial) e pensar em ensinos consistentes e de profundidade inestimável como os de Jesus.

2. Jesus e Seus ensinos estão se tornando banais como objetos de consumo -  Em um de seus livros o sociólogo polonês Zygmunt Bauman fala sobre como o consumo está associado à busca desenfreada pelo novo e à atitude de descartar rapidamente o que se considera obsoleto. Esse é outro risco que correm Cristo e o cristianismo quando transformados em meros produtos comerciais, ainda que sejam produtos abstratos. O consumo comum de uma mercadoria tangível ou de um conceito significa que, se determinado produto não for mais adequado à necessidade do consumidor ou perder alguns dos atributos que o fazem ser sensacional e atraente, ele pode e merece ser substituído. Só que na Bíblia a ideia apresentada é a de relação entre o ser humano e Cristo como algo pessoal, constante e que não depende apenas do interesse humano. Cristo disse, de acordo com relato de João 15, que Ele é a Videira verdadeira e nós somos os ramos e que quem permanece Nele dá muito fruto. Nesse caso, não existe troca de Cristo por outro elemento. Se houver essa troca, quebra-se a relação de amor com Ele. Cristo é Senhor e Salvador soberano sobre a vida humana e não uma mercadoria descartável que caiu em desuso ou só vale enquanto atende a uma necessidade específica.

3.Jesus e Seus ensinos só valem se forem agradáveis ao paladar, à visão, ao tato, ao ouvido ou ao olfato – Essa é a lógica comercial que permeia qualquer tipo de negociação há séculos. O problema é que a mercantilização de Jesus e Seus ensinos leva ao risco de se pensar na igreja cristã como algo para somente se agradar aos cinco sentidos. Se agrada, é bom. Se não agrada por alguma razão, então é porque não é bom. Mas nem todos os ensinos de Cristo foram agradáveis o tempo inteiro a quem manteve contato com Ele aqui nesse mundo. Ele conseguiu a inimizade, a incompreensão e a intolerância de muitos a ponto de ser morto. Cristo não pode ser tratado, portanto, como uma mercadoria caso contrário perderá Sua força e importância e será algo apenas para ser contemplado, admirado e respeitado. Mas não obedecido.

Os bonecos da Argentina são apenas uma ponta do iceberg. Tem muito mais por trás ou por baixo dessa lógica que já existe há muito tempo. Não há como se enganar. A motivação, se formos ao conceito bíblico, não parece ser a de tornar Jesus bíblico mais próximo dos adultos e das crianças. Parece, sim, a de consolidar sua imagem como de produto mercadológico. Perigoso...

Felipe Lemos

Felipe Lemos

Comunicação estratégica

Ideias para uma melhor comunicação pessoal e organizacional.

Jornalista, especialista em marketing, comunicação corporativa e mestre na linha de Comunicação nas Organizações. Autor de crônicas e artigos diversos. Gerencia a Assessoria de Comunicação da sede sul-americana adventista, localizada em Brasília. @felipelemos29