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Coluna | Felipe Lemos

O que faz as igrejas cristãs sumirem ou crescerem?

As igrejas cristãs precisam ser relevantes para a sociedade, mas necessitam muito mais de pessoas envolvidas com a missão.


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Em primeiro lugar, seria muita pretensão me aventurar a tentar responder a essa pergunta de maneira completa e conclusiva no pouco espaço disponível aqui na área de colunas do portal. Mas por que faço essa provocativa indagação? Bem, para ir em busca de possíveis respostas e refletir um pouco.

De maneira geral, há uma crescente preocupação com o enfraquecimento ou desaparecimento do cristianismo. Na Europa, por exemplo, de vez em quando algumas notícias sinalizam que igrejas cristãs fecham suas portas e, em seu lugar, surgem espaços para negócios de todo o tipo. Sai a religião e geralmente entram ambientes de diversão. E isso ocorre com frequência.

Em maio desse ano, li uma das tantas pesquisas do Pew Research Center em que foi apontado que a parcela cristã de adultos nos Estados Unidos vem diminuindo desde 2007. Em 2014, 71% dos adultos norte-americanos ouvidos disseram ser cristãos; uma diminuição de 5 milhões de adultos se comparado a 2007, ou seja, 8 pontos percentuais a menos.

Mas algumas religiões experimentam um crescimento. Na América do Sul, por exemplo, em 2014 os adventistas do sétimo dia registraram um aumento do número de membros na ordem de 3,55%. A denominação tem pouco mais de 18 milhões de membros no mundo. Na América do Sul, em 1915 havia pouco mais de 4.903 membros e hoje, nesse território, são mais de 2 milhões e 200 mil que afirmam professar essa fé.

Pessoas na missão

Todos esses números não significam nada se não entendermos o que realmente parece ser importante para determinar se uma igreja cristã tem futuro ou não. O que você pensa que é determinante para algumas denominações encolherem tanto a ponto de sumir ou, no caso de outras, experimentar uma curva de crescimento há muito tempo?

Sorte? Preferência divina? Pura estratégia de marketing? Templos suntuosos? Celebrações religiosas vibrantes e eletrizantes? Se qualquer iniciativa funcionasse, não teríamos igrejas em extinção, certo? Portanto, devem existir razões claras para o crescimento das igrejas cristãs. E os cristãos devem pensar sobre isso.

Creio firmemente, com base na Bíblia (que é o fundamento do cristianismo e isso não mudou e nem deve mudar), que uma igreja forte, com viés de crescimento, sempre será feita por pessoas na missão. Simples não? Talvez seja simples de afirmar. Gostei de uma frase de Eddie Gibbs em que ele comenta que “missão nunca pode ser reduzida a marketing. Caso contrário, sua energia motivadora será subvertida por considerações promocionais. A divulgação da igreja pode ser feita por ideias de marketing, mas nunca pode ser orientada pelo mercado, porque missões são um produto do coração de Deus”. [1]

Missão, algo que Deus estabeleceu, é muito mais do que uma frase decorada, no caso de uma igreja que deseja o crescimento. Nasceu com Jesus Cristo. Ele definiu que a igreja teria uma missão, a de pregar o evangelho ao mundo para testemunho de todas as nações. Seu foco foi essencialmente esse (Lucas 19:10; João 3:16-21; João 10:11). Poderia ter feito muitas outras coisas e até algumas delas fez: curou doentes, ressuscitou mortos, orientou milhares em suas dificuldades, viajou muitos quilômetros a pé, fez belos sermões, desenvolveu um grupo de discípulos. Mas tudo tinha um objetivo claro: cumprir com a missão para a qual havia vindo ao mundo.

E considero firmemente que essa missão só tem sentido se for cumprida por meio de pessoas transformadas espiritualmente. O cumprimento da missão de uma igreja não se dá por aumento de patrimônio, por conquistas políticas, pela quantidade de recursos que investe em determinado projeto, pela qualidade dos programas ou eventos, nem pela capacidade de influência sobre governos ou organizações em geral. Esses fatores até podem fazer parte da realidade das igrejas, mas jamais serão a sua finalidade.

Uma igreja precisa mobilizar pessoas para a missão. Pessoas que têm lutas, dificuldades, dúvidas, medos, mas que aceitaram ser usadas por Deus para fazer parte do cumprimento de uma missão espiritual com implicações não apenas aqui nesse mundo. Mas na eternidade. Usadas para salvar outros e consequentemente fazer parte do processo de salvação.

Ênfases

Na América do Sul, os adventistas escolheram quatro ênfases para os próximos cinco anos. E fiquei pensando em cada uma delas à luz do conceito do que considero fatores decisivos para crescimento. Falou-se em comunicação como uma ênfase. Não comunicação enquanto uso de ferramentas ou estratégias apenas. Comunicação como o envolvimento total de pessoas para comunicar, das mais diferentes, diversas e inovadoras formas, o evangelho de salvação ao maior número possível de pessoas por meio de diferentes métodos capazes de sensibilizar desde uma criança de três anos até um idoso.

Novas gerações mais conectadas a Deus é outra ênfase. Como disse o líder sul-americano adventista, pastor Erton Köhler, “modernizar sem mundanizar”. Interessante. Essa igreja quer ser relevante para crianças, jovens e adolescentes, mas não quer rebaixar os princípios. Quer torná-los atrativos a quem hoje vive com uma perspectiva diferente de vida.

Outra ênfase apresentada foi a de uso claro e individual dos dons para o ministério. Uma igreja vai experimentar algum tipo de crescimento obviamente a partir do momento em que cada pessoa se conscientizar e se comprometer com a missão dentro da sua habilidade. Há muito o que fazer de várias formas e há muita gente que pode e deve fazer parte disso. Observar, acomodar-se e criticar é fácil, mas não promove crescimento em nenhum sentido. Sair da zona de conforto e fazer algo é mais difícil, mas gera mudança.

Os adventistas também enfatizarão um novo pensamento sobre a formação teológica. Querem pastores, ou seja, líderes melhor preparados para uma igreja em mudança, em movimento, que precisa desesperadamente dar sua contribuição significativa para o cumprimento da missão.

Só que o cerne de todas essas ênfases me parece ser pessoas na missão. Não há necessidade de tantos discursos inflamados nos púlpitos ou nem de tanto esforço para convencer a sociedade de que as coisas não vão bem em muitos aspectos da vida (político, moral, ético, religioso, etc.). Isso se torna mais evidente.

Se a Bíblia está certa (e eu creio firmemente que está), o Espírito Santo já atua com força e incomoda a muitos. Está me incomodando. E está incomodando outros. Está mexendo com gente. Está focado em mobilizar pessoas, como eu, para a missão de qualquer jeito.

Não tenho resposta para a pergunta que dá título a esse artigo, mas sei que eu preciso fazer parte da resposta dela no aspecto do crescimento. E tem de ser agora. Porque o momento é propício, as circunstâncias são favoráveis e Deus espera isso de quem hoje está vivo lendo esse artigo.

Que Deus lhe use de alguma forma. Você é uma pessoa na missão!

[1] Para onde vai a igreja: mudanças de conduzir ministérios / Eddie Gibbs – Curitiba, PR: Editora Esperança, 2012.

Felipe Lemos

Felipe Lemos

Comunicação estratégica

Ideias para uma melhor comunicação pessoal e organizacional.

Jornalista, especialista em marketing, comunicação corporativa e mestre na linha de Comunicação nas Organizações. Autor de crônicas e artigos diversos. Gerencia a Assessoria de Comunicação da sede sul-americana adventista, localizada em Brasília. @felipelemos29