“Eu me olhei no espelho e chorei muito. Ficava morrendo de vergonha, não queria que ninguém soubesse. Mexeu muito com minha autoestima", revelou Aline Wega, Miss Campinas 2004. “Eu acredito que foi uma missão. Eu tentei entender por que aquilo estava acontecendo e levar de um jeito positivo”, continuou. Mas o que afinal aconteceu com essa representante da beleza e do poder feminino? No auge da carreira, aos 23 anos, o que poderia sacudir seu mundo? O nome do seu pesadelo foi linfoma de Hodgkin, um tipo de câncer no sistema linfático. A descoberta foi em 2006, enquanto fazia vários trabalhos em desfiles e fotos. De repente, a jovem modelo alta e de cabelos escuros se deparou com algo assustador, nada comparado com a beleza e o glamour dos concursos que estava acostumada a participar.

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“Foi um susto muito grande, principalmente para uma pessoa que vivia de beleza, foi um momento muito difícil. Quando você recebe a notícia, parece um atestado de óbito”, lembra. Nesse momento, sua família foi seu porto seguro. Voltando a morar com os pais, Aline recorda do carinho e apoio que recebeu no pior momento de sua vida. Após seis meses, a doença se estabilizou. A bela jovem, com a aparência um tanto transformada pelo doença, ficou curada. No momento, isso era tudo que importava. Pouco a pouco, retomou à sua vida como modelo. “Quando a gente é jovem e se cura de uma doença, fica meio desnorteado, quer abraçar o mundo, aquela sensação de que renasceu, de querer fazer tudo”, disse.

Em 2008, enquanto viajava à trabalho pela Europa, levou outro susto. Descobriu que estava grávida, mesmo ouvindo dos médicos que após a quimioterapia as chances de ter um filho eram mínimas. Abandonou, então, de uma vez por todas o brilho das passarelas e fotografias. Se a alegria de viver dela acabou? De jeito nenhum. Aline acredita que o bebê foi um milagre em sua vida. “Meu filho foi tudo que eu precisava. Acredito que o Igor foi um aviso, ele mudou completamente minha vida”, declarou.

Quatro ano depois, outra notícia inesperada. Mais uma batalha, dessa vez contra a Leucemia Mielóide Aguda. Dá pra acreditar? Ficou internada por três meses fazendo quimioterapia e aguardando um doador de medula óssea. A chance de encontrar alguém compatível era de uma para 100 mil. Os médicos, então, a informaram que tinha apenas quatro meses de vida, mas isso não abalou a confiança dela na cura. “Eu tinha muita certeza que o doador que ia parecer, não teve um momento que eu duvidei disso”, disse ao demonstrar sua fé e lembrar que seu filho foi sua força. Oito meses depois, Aline foi informada de que oito doadores haviam sido encontrados. “Quando eu vi a medula do doador chegando, eu chorei, ajoelhei e agradeci”, desabafa. “Não tem uma noite que eu não reze por ele”, mostra sua gratidão mesmo sem conhecer a identidade do doador. Mais uma vez, sua força e alegria vieram de alguém, e não de algo.

Após tantas lutas e vitórias, a miss vê sua história se transformando em referência para outras mulheres. Por isso, hoje se dedica a dar palestras motivacionais a outras vítimas de câncer, que se encontram psicologicamente abaladas, principalmente por conta da aparência. “Eu escolhi ajudar as mulheres a lidarem melhor com a doença, ensinando a usar a arma da beleza para enfrentar os efeitos dos tratamentos. Eu procuro mostrar que cabelo não é nada perto da grandiosidade do que é a vida. A autoestima é a beleza de dentro para fora”, conta. Aí você pode imaginar que ela pensa assim porque já venceu a doença e recuperou sua beleza. Pois vale dizer que Aline vive com sequelas, mas que, segundo ela, não significam nada perto de tudo que já passou. “Se eu pudesse viver careca a vida inteira, eu viveria. O importante é que eu estou viva”.

Histórias como esta nos fazem meditar no real valor da vida. Se tudo que nos dá prazer e realização provém da nossa carcaça, qual é a certeza do nosso amanhã? Que seu tesouro não esteja em algo que pode ser corroído ou deteriorado a qualquer momento, mas sim num lugar em que nada nem ninguém (nem mesmo uma doença) podem roubá-lo de você, na sua alma, território de Deus. E quando o ladrão da beleza chegar (e ele vai chegar), ficará frustrado em ver que sua beleza é intocável.