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Coluna | Carlos Nunes

A ética é proselitista, sim…

O título desse artigo pode não ter clareado sua intenção. Por essa razão, é preciso definir alguns conceitos, torcendo para que eles infundam o desejo em você, prezado leitor, de chegar ao final dessas linhas. O primeiro deles é a definição de ética:...


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Futebol, política, religião. Existe ética quando se fala desses assuntos?

O título desse artigo pode não ter clareado sua intenção. Por essa razão, é preciso definir alguns conceitos, torcendo para que eles infundam o desejo em você, prezado leitor, de chegar ao final dessas linhas. O primeiro deles é a definição de ética: tem que ver com ethos, palavra grega que define modo de vida, costumes, hábitos que configuram uma diretriz social que move um povo em uma direção conjunta e não em outra... Simples?

Outra definição importante é o conceito de proselitismo. Biblicamente falando, essa palavra tem origem no judaísmo. Como se sabe, o judeu, embora cioso de seus dotes étnicos e espirituais, abriu a possibilidade para um não judeu (gentio em linguagem bíblica) que quisesse filiar-se social e religiosamente ao “povo da Aliança”... Como ele fazia isso? Passando pela circuncisão (corte do prepúcio no órgão genital masculino), pelo batismo e por levar uma oferta no Templo. E, então, surgia um “prosélito”.

Colocados esses dois referenciais, podemos avançar para dizer que entendo toda ética como proselitista... Em que sentido? Se ética é o conjunto de valores, hábitos e costumes que direcionam um jeito comum de vida em sociedade e fazer proselitismo é estabelecer condições para uma filiação a um determinado estilo de vida, começo a ver muita coisa vestida de ética proselitista...

Quando olho para o casamento entre o esporte e a mídia, começo a enxergar que o “negócio do esporte” tornou-se estratosfericamente rentável quando alguém da mídia o entendeu como capaz de ser um catalisador universal. E, hoje, mais da metade dos espaços de TV aberta (nas fechadas existem canais exclusivos 24h de esporte), rádio, jornal e internet são dedicados ao esporte, notadamente o futebol. O esporte, em particular o futebol, tornou-se um tipo de ética proselitista, uma vez que criou um modus vivendis todo especial: você tem que acompanhar e engajar-se. O futebol dita regras de comportamento social. Antigamente era o menino que vestia o uniforme do time de coração do seu pai até que conscientemente tornar-se-ia o seu também. Hoje, é o marmanjo que agride e mata em nome dessa “paixão”! E quando se aproxima a Copa, a mensagem proselitista é: você precisa engajar-se no revival do projeto “Pátria de chuteiras”...

E o que dizer das ondas musicais que invadem nossas praias? A cada nova onda vem um novo ritmo (surf music, rock’n roll, sertanejo “fundamental e, depois, universitário”, pagode, gospel) que toma conta das rádios... É, sim, uma ética proselitista, pois dita todo um comportamento que tem por objetivo fazer novos prosélitos.

Quanto à ética política, bom, essa nasceu proselitista! Para ficar pelo Brasil, basta lembrar-se do MDB x Arena e mais modernamente PT x PSDB... É claro que o espectro à direita e à esquerda segue bastante amplo, mas, espremendo bem, chegamos às polarizações expressas por essas duas correntes. A política tem uma ética proselitista tão peculiar que no partido do governo, por exemplo, um pré-candidato que deseje filiar-se para concorrer, precisa aderir a uma das tantas correntes internas ali existentes... Um filiado “independente” é quase uma heresia!

Por limitação de espaço e do seu tempo, política, comportamento e esporte já são suficientes para uma amostra argumentativa. Isso porque, agora, quero derivar para o ponto central dessa proposta. Por que as pessoas são tão preconceituosas quanto à mensagem bíblica? Ah, dizem: política e religião não se discute? Discute-se, sim! Assim como se discute paixão futebolística, governos à direita e à esquerda, livre orientação sexual, finais de novelas globais e outras tantas éticas sociais proselitistas...

Quando vejo quase tudo assumindo uma roupagem ética proselitista, fico pensando no menosprezo e ridículo a que são submetidos os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus. Na realidade, acusam a mensagem de proselitismo barato, lavagem cerebral, maniqueísmo doentio (ou é de Deus ou do diabo), mas esquecem que de alguma forma quase todos eles anseiam validar esses valores éticos proselitistas que chamam anacrônicos e obsoletos. Se não, vejamos dois casos:  Quanto ao casamento estão todos à frente do seu tempo, mas quase todos sonham materializar suas uniões hetero ou homoafetivas à frente de um padre, pastor ou juiz de paz algum dia! E são os mesmos que validam preconceitos e paradigmas que deveriam de alguma forma combater com sua "sede por revolução social, política e comportamental”: na câmara de vereadores de Porto Alegre, por exemplo, em 2013 os "pelados" que mostraram seus "documentos", salvo engano meu, eram todos homens, porque as mulheres ainda são as mesmas oprimidas de sempre... Escravas do pudor, não podem mostrar a genitália.

Se tudo é ética proselitista, por que só o proselitismo religioso que defende a guarda dos mandamentos de Deus e a fé em Jesus é quem paga o pato?

Carlos Nunes

Carlos Nunes

Ética Prática

Assuntos relacionados à ética sob o ponto de vista cristão e os dilemas enfrentados pelas pessoas no seu cotidiano.

Teólogo, atualmente exerce seu ministério pastoral no Peru. Jornalista profissional há mais de 20 anos, foi repórter nos jornais Diário Gaúcho e Zero Hora, e professor no curso de Jornalismo do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp).